Um toque na campainha. A permissão. Três degraus e pronto: adentramos o espaço do Grupo Casa ou a casa do Grupo. A varanda já demonstra que algo diferente paira no ar. Mesas, cadeiras, sofás, fragmentos de palco, composições de figurinos e livros, muitos livros, compõem o ambiente. Um prenúncio do que é o lugar.
De repente um grito!
Uma discussão? Uma briga? Não! É só parte do ensaio.
A arte vai assim, se espalhando pelo ar, como um gás venenoso, que mata o pouco e vira um todo dentro de quem permeia o ambiente. A iluminação, um piano velho, que de repente se mistura com o palco e o auditório que se cria um pouco mais à esquerda. As cadeiras decoradas, assim como cada ator, artista, aluno ou plateia que ali entra, de retalhos de uma experiência.
Cada parte da casa é especial. O Chão, as paredes que sofrem mudanças constantemente, mas ainda assim guardam e refletem histórias e momentos de cada um que faz parte do coletivo Grupo Casa.
Todo o lugar convida para uma reflexão interna. Faz-se perguntar: o que é o teatro? E se é isso, porque tão pouco o vemos assim?
A vontade é de entrar e ali ficar. Saber o que se passa em cada cômodo em cada cabeça e em cada coração. Tudo acontece com todos o tempo todo.
Eles montam um teatro na sala de casa, cuidam da faxina, ministram aulas às dezenas de alunos da escola de teatro, alimentam e cuidam dos cãezinhos da residência, ensaiam apresentações pro fim de semana, afinam instrumentos, organizam as agendas, revisam a peça “A Vida É Sonho”, produzem os figurinos…
Ufa! 24 horas parece pouco para o grupo. E o mais incrível, além dessa energia, é a empatia entre todos e acima de tudo, como essa imensa engrenagem sempre termina bem. É a arte do teatro, que também ensinou o malabarismo dessa vida de artista e que traz resultados tão fantásticos.
Dirigido por Fernando Lopes Lima e Ligia Prieto, que também assinam a dramaturgia, o Grupo Casa também conta com os integrantes Thaisa Contar, João Celos, Roberto Lima, Thiago Costa, Sarah Caires, Kelly Figueiredo, Gabriel Brito e Febraro de Oliveira, que se dividem nas funções de atores, iluminadores, cenógrafos, figurinistas, produtores, fotógrafos, enfim, um infinito de funções que resultam em uma obra equilibrada, dinâmica e de qualidade.
Com o teatro construído na sala da casa, eles querem que o público vá até lá e entenda o que é viver do teatro, que se sintam acolhidos entrando nessa bolha que faz vagar em outras estruturas de existência.
A concepção de estar em um espaço pensado para o teatro que convida a sentir o factual, ajuda a deixar, mesmo que por alguns momentos, as cargas lá que existem do lado de fora, e entrar de peito e mente aberta para o novo, para o espetáculo, a assim receber tudo com uma nova percepção.
Só presenciando para sentir! E a oportunidade é a partir do dia 13 de julho, quando estréia “A Vida É Sonho”, projeto foi contemplado no edital Fomteatro (Programa Municipal de Fomento ao Teatro) – Prefeitura Municipal de Campo Grande – MS.
A peça conta com representantes individuais de dramas universais. O Barroco no caótico mundo do humano. Rosaura é uma mulher desonrada e maltratada, que clama por vingança. O rei tem um escravo, Clotaldo. Segismundo, filho do rei Basílio, um príncipe que vive enclausurado. Presas aprisionadas numa colagem sobreposta. Um plágio combinação. Uma insolente reprodução do contemporâneo atravessado pela ficção diária. Personagens cravados por Calderón de La Barca, abençoados por Padre Antônio Vieira, sacramentados por Saramago, perdoados por Castro Alves, queimados por Clarice Lispector, aprisionados por Platão, dilacerados por Fernando Pessoa. Desencontros, ambições, paixões e vingança, amarrados pelo sutil laço da graça.
As apresentações seguem até o dia 25 de agosto, sempre de quinta-feira a sábado, na sede do grupo, localizada na Travessa Tabelião Nelson Pereira Seba, nº 8, Chácara Cachoeira. Os ingressos custam R$ 10. Classificação indicativa: 16 anos. Mais informações pelo telefone 3326-0222.
Para reservar os ingressos é só acessar o link: