Patriotas e o fantasma da impotência

Viagra, prótese peniana, lubrificante íntimo... Aos patriotas, tudo; aos inimigos da pátria, balas. Simples assim!

Nossa! Até a Globo, que entre 2014 e 2019 era o carro-chefe da patriotada, faz um ar de perplexidade quando as contas públicas revelam aquisição de, digamos, produtos pouco ortodoxos para a Defesa: Viagra, prótese peniana, gel lubrificante íntimo…

Paremos de hipocrisia. Por que tanta indignação? Patriota é gente, tem sentimentos e “otras cositas más”, merece ser feliz. Em tempos bizarros como estes, quando a sua principal ‘arma’ precisa cuidados, nada mais justo que o país pague pelos reparos. Pena que o mercado não ofereça prótese cerebral, lubrificante mental ou tônico intelectual.

Talvez poucos saibam, mas os adolescentes da década de 1960 não se esquecem dos torneios clandestinos em que a garotada ia para a moita testar seu ‘vigor’, ora apostando quem conseguia ejacular mais longe ou, os mais ‘avançados’, trocando ‘faquinha’ em revezamento. O querido Amigo Augusto Lawrentz me contou com riqueza de detalhes, e coincide com a faixa etária dos centuriões majorais.

Se na caserna não há cachorro, caça-se com gato. É o que nos ensina o saber ancestral. Machismo à parte, é a formação da ‘sagrada’ família. Depois, na hora da reza, expia-se dos pecados da carne, do ódio, da cobiça e do sobrepreço…

Está tudo dentro da mesma lógica. Elegeram-se atribuindo ao inimigo a autoria do kit gay e, entre outras coisas do gênero, da ‘mamadeira de piroca’ (sic). Até porque a musculosa mente dos patriotas sempre esteve focada ‘naquilo’, como bem Dona Bela, do saudoso ‘ex-comunista’ Chico Anysio, já advertira…

Lembram-se do mito, então deputado federal, que disse que sua colega de parlamento, a Deputada Maria do Rosário, não era merecedora de seu honroso estupro? Houve alguma punição pela conduta? Na época, auge do conluio golpista, sequer a mídia corporativa (inclusive a rede dos filhos de robertomarinho, como bem o velho ‘O Pasquim’ grafava) deu o destaque que o caso requeria.

Não, porque naquele momento era preciso ‘aglutinar’ forças para executar o plano de tirar Dilma da Presidência. Depois, todo patriota é ‘espada’, e essa conduta é própria de sua ‘comunidade’. Além do que, cá pra nós, o ranço machista está impregnado, sob os hipócritas lençóis de seda da burguesia fétida, no comportamento ‘ocidental’.

É o que a ‘sagrada’ família ensina em casa: macho é macho, e fêmea é fêmea. Não se deve inibir a ‘altivez’ do caçador… Aí o ‘caçador’ vira predador, sai da caixa de pandora e apeia do cargo cobiçado ‘a gente de bem’ (ou seria ‘agente de bens’?).

Aos patriotas tudo; aos inimigos da pátria bala! Não demorou muito e, com tiros de advertência, executaram a Vereadora Marielle Franco — demonstração de seu poder de fogo (e para rebater, o idiota usado para a fakeada, travestido de filiado ao mesmo partido da vítima cuja memória foi enxovalhada e os mandantes permanecem impunes).

Dizem que Sigmund Freud tem explicação precisa. Como não o conheço o suficiente, prefiro ficar na superfície. Basta observar o formato fálico das munições, em especial os mísseis balísticos e as balas de grosso calibre. Isso é de e para macho. E macheza não combina com coisa murcha, ainda que esteja por baixo das ceroulas.

Tanto nas tropas de Nero como nas de Hitler, havia um seleto grupo ‘de elite’, cujo maior privilégio era sentir ‘aquilo’ no meio de suas pernas: a orgia era terrivelmente ‘sodomita’, para lembrar de outra turma promíscua, a dos sacerdotes que servem a dois senhores — mas isso era segredo de Estado, só podia ser revelado ‘cem anos depois’.

Senhores e senhoras de ‘bem’, está tudo ‘conforme’, tudo no seu lugar. Deixem em paz (ou, ‘em guerra’?) os ‘rapazes’, que, afinal, brincar com o ‘bilau’ é treino para macho nenhum botar defeito. O que importa é que a ‘sagrada’ família continua a comer caviar. Ainda que para isso seja preciso rifar todas as riquezas nos próximos meses, até porque ‘o futuro adeus, pertence…’, no sábio dizer do bom e velho ‘O Pasquim’, remetendo-se ao legado de Stanislaw Ponte Preta, o imortal Sérgio Porto, do Febeapá, o festival de besteiras que assola o país.

*Ahmad Schabib Hany

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo