Maioria dos jornalistas e demais profissionais entrevistados – 70% deles acima dos 60 anos – depende de transporte público, quase metade é usuária do SUS e um terço ganha menos de 3 salários mínimos
A pesquisa “A Saúde do Associado em Tempos de Pandemia”, realizada pela Diretoria de Assistência Social da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em abril de 2020, mostrou a vulnerabilidade social em que encontra boa parte dos jornalistas e demais profissionais vinculados à entidade.
Quase a metade dos entrevistados (47,8%) depende do Sistema Único de Saúde; a maioria (59,6%) é usuária de transportes públicos e quase um terço (30,9%) ganha menos de três salários mínimos. Além disso, a maior parte dos associados (mais de 70%) está acima dos 60 anos de idade, o que os coloca ainda mais em situação de extrema vulnerabilidade durante a pandemia do novo coronavírus.
Na ocasião da pesquisa, realizada no segundo mês de isolamento social, a grande maioria (47,4%) qualificou como “bom” seu estado de saúde e 35,1% relataram ser “muito bom”. Um total de 12,3% respondeu que o estado de saúde é razoável e o restante, que é mau. Ao se avaliar a saúde emocional dos associados, 29,8% diziam-se esperançosos, 28% ansiosos, 24,6% otimistas e 12,3% deprimidos. Os demais responderam ‘pessimista’ ou ‘outros’.
Das 57 pessoas entrevistadas, 26 responderam que não têm nenhum plano de saúde. Indagadas se possuem alguma doença crônica, 30 pessoas responderam que sim. As mais comuns são hipertensão, enfisema pulmonar e diabetes – importantes fatores de risco para o agravamento de quadros de Covid-19.
Outros responderam: bronquite alérgica, DPOC, problemas cardíacos, problemas circulatórios, cirrose, bipolaridade, fibromialgia, osteoporose, rinite, sinusite, insuficiência renal e urticária. Uma pessoa respondeu ‘SOLIDÃO’.
Situação funcional – A pesquisa também apontou a fragilidade dos vínculos de trabalho entre os que ainda estão no mercado de trabalho e o empobrecimento daqueles que sobrevivem dos ganhos da aposentadoria.
Do total de entrevistados, apenas 12% se declararam empregados. Metade (50,9%) é de aposentados ou pensionistas; 22,8% atuam como freelancer; 7% estão desempregados e 7% atuam como empreendedores ou empresários. Uma segunda edição da pesquisa deverá ser realizada ao final do primeiro trimestre de 2021 para reavaliar a situação dos associados após um ano de pandemia.
PROPOSTAS PARA 2021
Um programa voltado para a saúde do associado, que inclui ações informativas e educativas, novos convênios e parcerias, especialmente na área de telemedicina, é o principal carro-chefe do Plano de Ação da DAS para 2021.
“A Diretoria de Assistência Social, junto à comissão composta atualmente de 13 associados e conselheiros, e com apoio do Conselho Deliberativo, estuda uma série de outras atividades, sem impacto financeiro para a casa, que ajudem especialmente aos associados em situação de vulnerabilidade social e emocional”, disse a diretora da ABI, a jornalista Rosayne Macedo.
Segundo ela, o maior desafio é buscar um plano de saúde que atenda ao perfil etário dos associados, com custos razoáveis, sem contrapartida financeira da instituição, que atravessa uma grave crise financeira. Por isso a busca por planos de saúde alternativos e mais acessíveis, especialmente que atendam pelo sistema de telemedicina. Sobre liberação de cestas básicas para funcionários e associados da ABI mais vulneráveis – uma prática antiga realizada com apoio da LBV (Legião da Boa Vontade) até 2018 -, ela explicou que a comissão chegou a renegociar a parceria com a entidade em 2019, mas a proposta não chegou a ser referendada pela Diretoria Executiva na ocasião.
Outra proposta que deverá ser retomada pela DAS é o projeto ‘Pratas da Casa’, uma série de entrevistas com associados que ajudam a contar a história da “casa do jornalista”. O primeiro foi Lóris Baena, de 98 anos, o associado mais antigo da casa. Os próximos a ser entrevistados serão o atual presidente do Conselho Deliberativo, Fichel Davit Chargel e o conselheiro Ivan Proença.
Mais novidades – incluindo a retomada da série de encontros Reinventar/ABI, para apoio a jornalistas em processo de transição de carreira – foram discutidas em reunião da Diretoria Executiva, realizada nesta quarta-feira (3/2). O Plano de Ação DAS 2021 foi muito bem recebido pela Diretoria Executiva e deverá ser apresentado um resumo aos membros do Conselho Deliberativo na próxima reunião, prevista para a última segunda-feira de fevereiro. Na primeira reunião do CD de 2021, realizada dia 5/1, Rosayne solicitou apoio dos mais de 50 conselheiros presentes para as propostas de apoio aos associados. Durante aquela reunião, foram empossados os novos integrantes do terço do CD, eleito em 18 de dezembro.
CRISE NA ABI
A ABI – cujas portas estão fechadas desde o começo da crise sanitária – tem cerca de 3 mil associados, sendo pouco mais de 280 adimplentes. Desses sócios ativos, 57 responderam à pesquisa. A entidade – que conseguiu recuperar seu protagonismo na luta pela democracia e liberdade de imprensa no Governo Bolsonaro – amarga uma das piores crises financeiras de seus 112 anos de história, com muitos passivos trabalhistas, e terminou o ano dispensando oito funcionários aposentados, alguns com mais de 50 anos de casa.
Em 2020 a ABI lançou uma ampla campanha de crowdfunding, com apoio de grandes veículos de imprensa, para tentar salvar seu patrimônio, mas não foi bem sucedida. Campanhas de filiação e ações para trazer de volta sócios inadimplentes estão sendo discutidas, além de incentivo para que o associado antecipe a anuidade de 2021. A crise na ABI repete a de outras entidades representativas da categoria, como o Sindicato de Jornalistas do Município do Rio, que oferece desconto de 30% para quem antecipar a anuidade.
Veja no site da ABI uma chamada para a pesquisa, com os resultados na íntegra. http://www.abi.org.br/abi-divulga-perfil-de-saude-do-associado/