Com o endividamento em alta no Brasil (oito em cada dez pessoas estão nessa situação hoje no país, segundo a CNC), guardar dinheiro é um desafio para a maioria da população.
Pior ainda considerando que, dessas, três em cada 10 estão inadimplentes – ou seja, estão com alguma conta atrasada. Esses números ficam mais complexos considerando que uma pesquisa recente do instituto PlanoCDE mostrou que 27% dos brasileiros não chegam ao fim do mês com dinheiro na carteira.
Assim, entre o desejo de economizar e a possibilidade concreta de chegar lá estão as urgências do cotidiano – como os boletos, a compra do mês do supermercado ou as dívidas.
O mesmo instituto mostrou, por exemplo, que pouco mais de um terço (38%) dos brasileiros das classes mais baixas têm um valor superior a um salário mensal guardado no banco. É por isso que, quando as coisas apertam no meio do mês, a solução passa por empréstimos bancários ou até mesmo com familiares e amigos próximos.
Isso acontece porque até mesmo a motivação central em economizar algum dinheiro tem sido impossibilitada pelo contexto do país: a chamada situação de emergência. Ou seja, a maioria da população procurar ter recursos na poupança não pensando – ou não podendo pensar – no longo prazo, mas tentando se precaver para momentos em que o dinheiro pode faltar para compras itens básicos.
De outra forma, essa situação tem sido visto no aumento de pessoas que procuram seus fiadores em busca de soluções para as dívidas. Para os especialistas, negociar dívida claro que é um fator importante nessa época do ano, em que muitas instituições financeiras, bancos, redes de varejo e comércio em geral costumam conceder descontos para contas atrasadas ou situações em que o boleto está rolando há algum tempo.
Sobre a poupança, os brasileiros mais velhos se lembram de quando tudo o que estava guardado na poupança foi congelado pelo governo do dia para a noite. A medida, tomada pela equipe de Fernando Collor de Mello em 1990, tinha como objetivo controlar a hiperinflação que o Brasil vivia naquele período – e fez com que 80% dos recursos aplicados nos bancos do país ficassem retidos.
Os imbróglios daquela decisão permanecem até hoje, já que muita gente ainda luta na Justiça para reaver juros ou valores perdidos naquele ano.
Ainda assim, a poupança é um desejo de muita gente no país. O problema é que há o dilema, dentro do orçamento dos brasileiros, que passa pela seguinte questão: usar o dinheiro guardado para pagar dívidas ou preservá-lo e pedir um empréstimo?
Hoje, o contexto pode ser todo observado por esse prisma. Afinal, estar com as contas atrasadas é sempre sinal de alerta.
Para pagar essas dívidas, muitas pessoas têm recorrido a novos empréstimos, enquanto outras decidem queimar o que está na poupança e evitar pagar juros mais altos.
Os especialistas financeiros alertam que a decisão varia de caso para caso, já que entram nessa conta os juros dos empréstimos, a renda da família e o montante na poupança. Alguns pontos, no entanto, podem ajudar nessa resolução.
Em primeiro lugar, é sempre importante ter uma reserva financeira. Que seja para uma situação de emergência, como a maioria dos brasileiros faz.
Em segundo, avaliar linhas de crédito mais atraentes permite elaborar um plano financeiro melhor, considerando juros e prazos de pagamentos que caibam no orçamento e, ao mesmo tempo, preservem as economias.
Sem contar que, com o fim do ano, muitas instituições financeiras oferecem acordos vantajosos para quitar dívidas antigas – o que pode ajudar a reestruturar o orçamento sem precisar mexer na tão suada poupança