Todos dizem que o futuro do mundo está nos carros movidos a energia renovável, recarregados em uma tomada em casa. Mas quando você olha seu bolso e o preço médio de um elétrico ou híbrido, que fica próximos dos R$ 200 mil, o primeiro pensamento que vem é: “o futuro vai ter que esperar”.
Mas o que faz um carro elétrico ser tão caro?
Bateria, células de energia, inversor e o dólar. Esses são, basicamente, os itens mais caros de um carro elétrico, como explica o professor coordenador do projeto Fórmula Elétrico da Fundação Educacional Inaciana (FEI-SP), Fábio Delatore.
“Só o motor pode custar até 40% do valor total do veículo. Isso porque ele usa alguns materiais vindo das chamadas ‘terras raras’, muito difícil de conseguir”, afirma o professor. O lítio, por exemplo, é um material relativamente raro na natureza, mas essencial na produção de baterias para celulares e veículos.
Já existem baterias que usam diversos materiais na sua composição, como o chumbo e o enxofre. Mas as de íon-lítio são as mais utilizadas, já que o que vale mais é a relação entre peso e quilowatt (kW), ou seja, quantos quilos a mais são adicionados para cada kW de energia.
O professor ainda afirma que o conjunto com diversas partes e os custos de produção encarecem o produto final. Ele exemplifica com os valores utilizados no projeto de elétricos da FEI.
“O motor que a gente usa custa entre R$ 30 mil e R$ 35 mil. Aí a gente começa a somar as células de energia, que custam R$ 105 cada, mas são 216 células. São R$ 23 mil só em células. Mais um gerenciador de bateria de R$ 20 mil, mais um inversor de R$ 25 mil. Todos esses itens agregados ainda são caros para a construção [do carro]”, afirma ele.
E tem mais. “Imagine uma pizza. Você vai na pizzaria e fica bravo porque pagou caro em farinha, água, tomate, mas não é bem isso. Existem diversos custos marginais, como produtos para montar o carro, custo de fabricação, eletricidade para manter a fábrica ligada, impostos, etc”, afirma o chefe da linha de veículos elétricos da BMW do Brasil, Henrique Miranda.
Dólar alto, carro caro
Esses equipamentos já são caros por si só, porque a tecnologia é muito nova e ainda precisa ter a produção otimizada pela indústria. Mas o fato de serem itens importados faz com que o preço oscile junto com o dólar, em especial no Brasil.
Ricardo Takahira, da comissão técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE Brasil, concorda que a procura por esses materiais também encarece a produção. “Câmbio já sobe e desce, não tem uma estabilidade. E todo mundo está correndo atrás das baterias, para desenvolver ou aplicar, aí fica mais caro mesmo”, afirma ele.
A China, por exemplo, não sofre com esse tipo de problema. Além das jazidas de minerais de terras raras, o país também é produtor de componentes como células de combustíveis, inversores e, é claro, carros. Foi assim que o gigante asiático se tornou a nação com maior número de veículos elétricos do mundo desde 2018.
Ajuda do governo (para quem precisa)
Países da Europa e Ásia já têm planos para aumentar a frota de carros elétricos nos próximos anos. A Alemanha pretende extinguir os motores a combustão até 2030 e o Japão pretende zerar a emissão de carbono até 2050.
O Brasil procura incentivar o uso de carros com energia alternativa reduzindo as taxas de importação. Desde 2015, veículos movidos a células de energia elétrica ou hidrogênio não recebem a taxa de 35% do Imposto sobre Importação (IPI).
Além disso, alguns municípios e estados abrem mão do IPVA e do rodízio para tornar esse tipo de carro viável. Mas na opinião de Takahira, da SAE Brasil, isso não é o bastante. “Tem que dar vantagem para o proprietário, não para a montadora. O que o comprador quer saber é: preço de compra, revenda e manutenção, dinheiro no bolso”, afirma ele.
Na ponta do lápis, é mais caro mesmo?
Além do carro, os equipamentos de recarga em casa também encarecem a propriedade de um elétrico. Um WallBox, terminal de recarga rápida, é um opcional que recarrega o veículo em menos tempo, enquanto o carregador tradicional demora mais de oito horas.
O Wallbox da BMW custa R$ 6.777 mais a instalação, cerca de R$ 2.500. Mas o preço desses terminais de recarga podem variar muito: de R$ 3 mil até R$ 14 mil.
Esses números podem assustar em um primeiro momento, mas quando levamos em conta o custo de manutenção do carro, o elétrico dispara por alguns motivos.
Em primeiro lugar, a energia elétrica ainda é mais barata em relação à gasolina. “O custo por quilômetro rodado na energia elétrica é um quinto do quilômetro rodado com gasolina. Isso se o usuário carregar na própria residência [em São Paulo]. Já existem 240 pontos de recarga com energia gratuita”, afirma Henrique Miranda da BMW.
E continua: “A manutenção do carro elétrico também é menor. Tem menos peças, não tem mangueiras (que ressecam e racham), não tem radiador, exaustor, tudo isso são peças que poderiam quebrar e que não quebram”, afirma.
A eficiência dos motores elétricos, ou seja, quanta energia é realmente aproveitada para mover o carro, é muito alta. “Motor a combustão tem aproximadamente 35% de eficiência e o motor elétrico tem 95% de eficiência”, comenta Takahira, da SAE Brasil.
Vai ficar mais barato e logo
Os especialistas concordam que os carros elétricos estão evoluindo muito rapidamente e que os modelos na faixa de R$ 60 a R$ 70 mil devem começar a aparecer em breve. Dez anos atrás, o preço para adicionar um quilowatt de energia em uma bateria era dez vezes maior do que é hoje.
“A indústria do carro elétrico tem entre seis e dez anos, contra uma [indústria] que tem 120 anos. A evolução do que aconteceu em elétricos foi muito maior do que aconteceu em combustão” afirma Henrique Miranda.