É de causar, no mínimo, estranheza a repentina ladainha, bem entoada, para que o Supremo Tribunal Federal libere a íntegra das delações premiadas, a título de “transparência”, em benefício da sociedade. O discurso, bem afinado, vai de Cássio Cunha Lima, passa por Romero Jucá (a dispensar comentários) e Aécio Neves e tem continuidade com o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros. Por que essa repentina mudança de postura?
Até pouco tempo atrás, não era esse o argumento dessas raposas, pegas agora com as patas untadas de seu próprio barro fecal.
Quando o foco da Lava-Jato era (como, a rigor, continua a ser, dentro da ótica do discípulo-mor de Pôncio Pilatos, lapidado nas instituições agora comandadas por Donald Trump) Lula e seu partido, os representantes das quadrilhas que começam a ser desmascaradas com seus esquemas anteriores a 2003 (posse do primeiro presidente de origem operária da história do Brasil, e por isso vítima explícita perseguição das famílias donas da mí(r)dia conservadora, do(a)s concurseiro(a)s ávido(a)s de seus quinze segundos de fama e dos banqueiros e rentistas ávidos do ganho fácil), usavam discurso falso-moralista para deslegitimar as conquistas palpáveis para o povo brasileiro e execrar a honradez do mais popular de todos os ex-presidentes do país nas últimas décadas.
Valdo Cruz, analista político da outrora vanguardista Filha, digo, Falha, perdão, Folha de S.Paulo, chama a atenção para este discurso “redondinho”, que nos remete aos inglórios tempos da Arena de Petrônio Portella e Golbery do Couto e Silva, fins da década de 1970. É que medíocres, “estrategistas” e cartomantes do igualmente pouco iluminado Temer são incapazes de grandes sacadas, e se limitam a requentar velhas soluções para resolver seus problemas, não os do país. Assim, sob a receptiva e bem empolgante retórica da “transparência”, representantes de quadrilhas organizadas conspiram mais uma vez contra o Estado Democrático de Direito, a Nação e a própria Lava-Jato, da qual nunca gostaram e, na verdade, apenas usaram como pretexto para um impeachment sem crime tipificado, o golpe.
Não é preciso ser Sherlock Holmes para compreender os nada honestos propósitos desses meliantes que ofendem a memória dos democratas que deram a vida para ver instalada a jovem, mas já estuprada, democracia brasileira. A liberação do conteúdo das delações premiadas prejudica as investigações para reunir provas (documentos, testemunhos e pistas) que levem para a cadeia os correligionários de Cunha e Cabral, entre outros, curiosamente do mesmo partido do capo golpista, que sem qualquer pudor está a entregar o patrimônio do povo brasileiro aos abutres da globalização, ao mesmo tempo em que destrói conquistas sociais, seja na forma de políticas públicas ou de direitos sociais duramente instituídos nas últimas décadas.
Prova disso é a obsessão com que Temer envia para o Congresso Nacional sucessivas “reformas”, ostensiva e acintosamente contrárias aos interesses da maioria da população, dentro da lógica (ou, melhor, dos interesses) do capital especulativo internacional e, pior, do crime organizado, que atua no desmonte das economias formais como a do Brasil, potência que começava a ganhar reconhecimento no planeta, dentro da política externa soberana implementada pelo chanceler Celso Amorim, que trabalhou com os presidentes Itamar, Lula e Dilma. Por que o ameb…, digo, S(f)erra foi guindado para lá? É que ele foi e continua a ser o mascate do Brasil. Tanto é verdade, que ainda antes do consumado o golpe, como senador, enviou uma série de projetos para, digamos, “flexibilizar” os mecanismos (para ele entraves) para privatizar a Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, Correios, Caixa e subsidiárias.
E só para concluir, refém que é dos tucanos, o inquilino-fantasma do Planalto, depois de insinuar que, como oriundo do Ministério Público de São Paulo, faria uma “indicação técnica” para a vaga do finado ministro do STF, causa mais uma perplexidade em cadeia com o anúncio do nome do rábula do PCC, aquele cuja biografia mais parece uma folha corrida, para a mais alta corte do país. Sem comentários…