Presidente da Eletronuclear diz que Angra 3 deve começar obras em 2024 e gerar 20 mil empregos

Redução de emissões de carbono no transporte e uso de hidrogênio como energia foram temas da 8ª Conferência Cidades Verdes

O presidente da Eletronuclear, Eduardo Grand Court, disse nesta quarta-feira (18) que espera iniciar no próximo ano as obras da terceira usina do complexo nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em 2024. Além de reforçar a matriz energética de baixa emissão de carbono no país, a construção de Angra 3 deve gerar sete mil empregos diretos e 20 mil indiretos, com a movimentação de recursos da ordem de R$ 20 bilhões.

Fotos: Marcelo de Jesus

Ao apresentar os planos da Eletronuclear na 8ª Conferência Cidades Verdes, no Centro de Convenções Firjan, Grand Court ressaltou a baixa emissão de carbono na produção de energia nuclear, o que tem levado diversos países ricos a retomarem a construção de usinas. A França tem 14 unidades em estudo, e há projetos de retomada de projetos em países como Estados Unidos e Europa.

A energia nuclear emite apenas 12 gramas de carbono por Kilowatts/hora, sendo comparável apenas à energia eólica, enquanto outras fontes chegam a emitir 400. É uma geração de baixo carbono, e por isso o mundo inteiro discute esse caminho para a transição energética“, afirmou o presidente da Eletronuclear.

Fotos: Marcelo de Jesus

Ele acrescentou ainda que a operação de Angra 1 e Angra 2 nunca causou problema grave à população, ao meio ambiente ou aos trabalhadores. Além disso, o complexo possibilita o desenvolvimento do hidrogênio como fonte de energia. “Nós já produzimos hidrogênio para a usina, temos muitos estudos, e agora vamos partir para o estudo de viabilidade técnica e econômica para produzir hidrogênio em quantidade suficiente para gerar energia“, afirmou.

Rio domina o ciclo nuclear

A construção de Angra 3 e a possível geração de energia por hidrogênio na região reforçam o domínio da cadeia de produção pelo Rio de Janeiro, consolidando o estado como capital da energia no país. “Temos a Nuclep, que produz equipamentos pesados, o Porto de Itaguaí, onde a Marinha tem as instalações para a construção do submarino nuclear, com produção de combustível. O mundo inteiro busca isso, e o Brasil e o Rio de Janeiro não podem abrir mão desse potencial.”

Engenheiro responsável pelo projeto de hidrogênio da Eletronuclear, Nelri Ferreira Leite disse na conferência que, atualmente, o estado brasileiro que está “capitaneando a revolução do hidrogênio” é o Ceará, que tem o Complexo Industrial e Portuário de Pecém e faz parceria com o porto de Roterdã, na Holanda, com investimento de 5 bilhões de euros no ciclo do hidrogênio. “Hoje, a grande vedete do hidrogênio limpo está no Nordeste“, disse Nelri, que apresentou detalhes sobre a fase em que se encontram os estudos de produção de hidrogênio nas usinas de Angra.

A 8ª Conferência Cidades Verdes é organizada pelo Instituto Onda Azul em parceria com a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). “O Futuro da Água e da Energia nas Cidades Sustentáveis” foi o tema desta edição, que reuniu centenas de pessoas no Centro de Convenções Firjan, no centro do Rio, nos dias 17 e 18.

 ‘Carbonômetro’ da Semove  

A redução de carbono na mobilidade urbana foi um dos temas centrais da conferência, com ênfase nos transportes públicos. A Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Rio de Janeiro) instalou no local um “carbonômetro”, um painel eletrônico que estima a quantidade de carbono que cada passageiro deixa de emitir ao usar o transporte público. Quem dispensa o carro para andar 20 quilômetros por dia de ônibus, por exemplo, contribui para a proteção do planeta como se plantasse quatro árvores por ano. Em dez anos, daria para arborizar uma praça, com 40 árvores.

Chegar mais rápido é qualidade de vida

A diretora de Mobilidade da Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro), Richele Cabral, disse que, apesar de reconhecer a urgência e importância da substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis nos transportes públicos, “a prioridade deve ser garantir que as pessoas cheguem mais rápido aos lugares, pois isso é qualidade de vida”.

Fotos: Marcelo de Jesus

Precisamos de mais faixas e corredores exclusivos. É nesse momento que a pessoa ganha confiança no transporte coletivo, quando sabe a hora em que vai sair de casa e chegar ao trabalho. Não é sustentável viver preso no trânsito, sem previsão de chegada“, disse a dirigente.

Pioneirismo de Maricá

Na mesa “Qual o futuro dos transportes públicos na redução das emissões de carbono?“, mediada pelo jornalista Agostinho Vieira, do Projeto Colabora, especialistas cobraram investimentos na modernização da Supervia, na expansão do Metrô e na discussão de projetos pioneiros como o de Tarifa Zero, implantado em Maricá. O município de Maricá também persegue o sonho de eletrificar a frota e usar hidrogênio como combustível, um pioneirismo citado por vários debatedores.

A Supervia tem uma capacidade absurda de transportar as pessoas de forma limpa, sem emissões. A chegada do metrô à Praça 15, como estava no projeto original, tem um potencial enorme de reduzir o uso de combustíveis fósseis no transporte“, disse Diogo Martins, especialista de estudos econômicos da gerência de infraestrutura da Firjan.

Menos poluição do ar no Rio

Guilherme Wilson, gerente de Planejamento e Controle da Semove, mostrou números positivos sobre a redução de poluição do ar a partir de investimentos tecnológicos: em 12 anos, a frota de ônibus da região metropolitana reduziu a poluição em 91%, e caminha para o patamar de 97%. Ele classificou como “exagero” a pressão por eletrificação, lembrando que a tecnologia apresenta opções diversas de emissão baixa de carbono, como combustíveis novos que dão mais autonomia aos veículos e reduzem o gasto com frotas de reserva, sempre repassado ao preço da passagem. Wilson disse que toda a frota de ônibus do Brasil é responsável hoje por 3 bilhões dos 65 bilhões de combustíveis fósseis consumidos no país.

Temos o hidrogênio verde chegando. Com cinco quilos, um ônibus a hidrogênio roda 1.300 quilômetros, emitindo zero carbono e com muita autonomia. Temos o diesel verde, o HVO, que está crescendo no mundo. Temos muitas alternativas, mas é importante entender que o modelo atual naufragou. A Prefeitura do Rio está dando um bom exemplo ao criar corredores expressos e estimular o uso do transporte público. O caminho é esse“, afirmou o dirigente da Semove.

Transição energética justa

No painel Transição Energética, o coordenador sênior de Energia no Instituto Clima e Sociedade, Roberto Kishinami, chamou atenção para a necessidade de essa transição ser mais justa socialmente, evitando que os mais pobres paguem pela economia feita pelos mais ricos.

Como exemplo, ele citou os incentivos dados na conta de luz para quem tem condições de instalar painéis de captação da energia solar em casa. “Quem paga essa conta não é o Tesouro, é o cidadão comum que paga na conta de luz. Pode parecer pouco, mas para uma família pobre, que precisa decidir se compra comida ou paga a conta de luz, isso pesa”, concluiu Kishinami.

Também participaram da mesa o coordenador de Desenvolvimento Socioeconômico do Instituto Pereira Passos, Henrique Silveira, a professora Amanda Schutze (FGV Clima) e Andrea Lopes, especialista em Sustentabilidade da Firjan. A última mesa do dia, sobre Financiamento Energético, com representantes da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), da UFRJ e do governo estadual.

A Conferência Cidades Verdes terminou com um debate sobre financiamento energético e as considerações finais do diretor regional da América Latina C40 Cities, Ilan Cuperstein. Cerca de 300 pessoas passaram pelo Centro da Firjan em cada dia do evento.

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