Campo Grande (MS) – Aconteceu na manhã desta quinta-feira (22) mais uma atividade do 3° ProlerTeen, que desenvolve oficinas de incentivo à leitura junto a alunos do 6° ao 9° Ano do Ensino Médio. A contadora de histórias e pedagoga Rosanne Dichoff Kasai, técnica da Secretaria de Educação de Mato Grosso do Sul, desenvolveu a oficina “Itamar Baguá: O menino Pantanal”, em que conta uma das histórias do gibi desenvolvido por ela no Grupo de Pesquisa, Estudos de Educação e Psicologia (Geppe) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), coordenado pela professora Sônia Urth.
O secretário de Estado de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei), Athayde Nery, iniciou os trabalhos falando sobre a parceria das três Fundações nas atividades desenvolvidas. Destacou o estande do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, que desenvolve uma pesquisa sobre a transformação do óleo de soja em biodiesel, que era feita em seis horas e agora pode ser feita em quatro minutos. “Numa escala industrial o impacto ambiental estaria bem mais reduzido. Mato Grosso do Sul, com este evento nacional de Ciência e Tecnologia, conseguiu emplacar 18 experimentos, o que corresponde a 20% em todo o país, ficando ao lado de SP”.
Sobre o Proler, o secretário afirmou que a atividade da leitura é muito importante. Lembrou o patriarca da leitura no Brasil, Machado de Assis, “referência literária usada mundialmente sobre nosso idioma. A literatura une povos, une as pessoas. Temos quatro biomas em Mato Grosso do Sul, a Mata Atlântica, o Cerraco, Chaco e Pantanal, que fazem da nossa região um lugar diferente. O Pantanal é único no mundo. Estamos diante dessa exuberância e preciso do trabalho de vocês para pesquisar nossas peculiaridades, nossas belezas”.
Segundo a gestora da Gerência de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Melly Sena, o Proler desenvolve ações em conjunto com a Semana de Ciência e Tecnologia, como esta oficina que desenvolve um trabalho de formação de leitores.
O tecnologista do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Charles Marloch, vê essa integração de maneira positiva. “São ações multidisciplinares que abrangem a ciência e tecnologia no nosso dia-a-dia, com as identidades culturais da nossa região. Com o Proler, essa provocação do tema da ciência está sendo atendida, está dando certo. A cultura científica também é uma manifestação cultural”.
A Oficina começou com a pedagoga Rosanne Dichoff Kasai agradecendo a todas as pessoas, amigos, parentes, colegas de trabalho, que colaboraram com o seu trabalho sobre o homem pantaneiro. Logo depois, seu sobrinho Murilo Dichoff, estudante de Música da UFMS, executou ao violão a Sinfonia do Homem Pantaneiro, de sua autoria. “Para compor a sinfonia inspirei na minha família, que é de Corumbá, na natureza de lá, com as lembranças dos meus tios tocando”.
Logo depois foi realizada uma Dinâmica Cantada, com o auxílio das técnicas pedagógicas da Secretaria de Estado de Educação (SED), Anelise Peralta e Letícia Recalde. As técnicas faziam perguntas à plateia, que dava as respostas cantando. As perguntas e as respostas eram projetadas numa tela para todos poderem acompanhar. A dinâmica refletiu a importância de ser escritor, as experiências e dificuldades que a autora Rosanne enfrentou ao escrever o trabalho, com perguntas e respostas que contam as experiências de ser contadora de histórias.
Rosane contou que começou seus trabalhos sobre o homem pantaneiro em 2010, com o foco em artesanato e arte. “Quando fui pesquisar em Corumbá, fiquei na casa de um tio meu, que me contou sua vida e suas histórias. Estudando o homem pantaneiro surgiu o menino, personagem do gibi. É baseado em histórias reais contadas pelo meu tio Iramar”.
Rosanne explica que no gibi seu tio Iramar é um menino, tem 12 anos. Na oficina ela contou uma das histórias – com gibi projetado na tela – que se trata de uma pescaria com Iramar e outros meninos. Iramar pescou um jacaré, soltou-o e depois pescou um lambari, que usou como isca para pegar um pintado. Ele explica para os demais meninos os tipos de peixe que pertencem ao Pantanal. Iramar levou o pintado para sua mãe cozinhar e todos os amigos comeram. O gibi tem ilustrações de Marcos Borges. Ainda não tem prazo para ser lançado em versão impressa.
Depois de contar a história, foi tocado o berrante como símbolo do Pantanal. Rosane falou aos estudantes presentes que persistam em escrever em criar. “O meu objetivo aqui é fazer com que vocês leiam muito e escrevam mais e mais e para que tenham a consciência da maravilha que é nosso Pantanal e que devemos preservá-lo”.
O secretário Athayde encerrou os trabalhos falando sobre sua infância no Pantanal. “Meus pais são pantaneiros. O homem pantaneiro usa o berrante para chamar a comitiva do gado. O baguá se arrisca para salvar o gado mais rebelde, que foge. Tem os índios guatós que matam onça com zagaia. O Pantanal é muito rico. O mundo o está descobrindo agora”.
Citou o poeta Manoel de Barros, que usou como matéria-prima o Pantanal e declamou duas poesias: “O fazedor de amanhecer” e “A ciência pode classificar”, que podem ser lidas abaixo:
O fazedor de amanhecer
Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.
A ciência pode classificar
A ciência pode classificar
e nomear os órgãos de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular
Quantos cavalos de força existem
Nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação
Perde o condão de adiinhar: divinare.
Os sabiás divinam.