Qual o destino do financiamento público de campanhas eleitorais

O Brasil é um país sui generis.

Um país com altíssimas taxas de desemprego, mas que os trabalhadores preferem ter direitos trabalhistas ao próprio emprego — porque, afinal, cada vez menos empreendedores conseguem gerar empregos com tantos encargos.

O Brasil também é um país sui generis porque aqui relegamos o ensino básico ao sucateamento, mas investimos dinheiro público para formar graduados superiores em faculdades estatais.

Sui generis porque a Corte Suprema se vê obrigada a legislar e o parlamento, mesmo num país presidencialista, governa.

Sui generis porque as estradas, os carros e o combustível são piores que nos EUA, mas custam bem mais caro devido aos tributos.

Sui generis porque aqui não permitimos que um empresário, que sequer tenha contrato com o poder público, possa apoiar financeiramente uma campanha eleitoral, mas que o erário (dinheiro do povo) banque 3 bilhões de reais para os chefes de partidos distribuírem ao seu bel-prazer, criando as estatais partidárias.

Transformamos os partidos em empresas e, pior… públicas! Agora, no Brasil, os partidos políticos são empresas públicas com seus “CEOs” políticos gerindo polpudos orçamentos e investindo em fábricas de laranjas e sabe-se lá em que outras frutas e hortifrútis. Nada impede que um partido invista sua “receita” na bolsa de valores, por exemplo. Ainda terão dividendos.

Quando o Congresso assim legislou, estava legislando pelos caciques políticos, não pelos políticos dos rincões, dos distritos, das áreas urbanas das pequenas cidades, legítimos representantes-raiz do cidadão na ponta da necessidade real.

Candidatos a prefeito e vereador de cidades médias e pequenas agora percebem que não haverá irrigação até os fundamentos das raízes destas grandes árvores partidárias, e eles serão presas fáceis de financiadores interessados em tirar vantagem do erário.

Tenho dito nas minhas palestras para os políticos do interior que não cedam e pensem mais em sua carreira política do que na próxima eleição, porque é como está no meu 2º livro: “Há políticos que têm um comportamento de página, não de livro”.

Trabalho com comunicação de prefeituras e campanhas eleitorais no interior há mais de 30 anos, pasmem, desde quando o caixa 2 das empresas jogados nas campanhas não tinha qualquer correlação com obras públicas. Empresários ajudavam para serem bajulados pelos poderosos de turno e se contentavam com convites para jantares e eventos oficiais, comendas, zumbaias e babaréus.

Depois, vieram os tempos da institucionalização do “financiamento interessado” e todos os políticos se enlamearam. Com o PT, tudo foi ficando mais organizado (no modo sindical) e começou a escandalizar muitos entre os comunicólogos da velha guarda. Tenho amigos que, como eu, se afastaram da nossa nobre profissão de consultoria política — atividade reconhecida mundialmente —, tamanho o banho de promiscuidade que se entornou sobre a política brasileira.

Não há dúvida de que algo precisava ter mudado. Mas fazer lei sob a fervura de escândalos nunca foi prudente. A solução encontrada para a farra das empreiteiras e dos políticos foi tão radical que piorou o processo.

De há muito advogo que bastaria manter o financiamento das empresas em campanhas, “desde que essa empresa não pudesse ser contratada por qualquer entidade pública ou de economia mista”. Simples! Muito simples!

Mas, não nos esqueçamos, o Brasil é um país sui generis demais para ser simples e, então, agora todos teremos de conviver com a aberração dos 3 bilhões de verba pública que sequer chegam aos candidatos na ponta. E, vejam, aqui não se trata de uma jaboticaba (fruto que, diz-se, tem origem no Brasil). Trata-se, verdadeiramente, de um tatu no alto de um poste. E, sim, alguém botou esse tatu lá!

Lamentável! Já estamos começando muito mal as eleições de 2020.

*João Miras é publicitário e estrategista de marketing político eleitoral de governos e partidos.

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