São Paulo (SP) – A expressão “prevenir é melhor do que remediar” é utilizada em diversos momentos de nossa vida, mas também pode ser interpretada ao pé da letra quando falamos de saúde. De forma geral, para prevenir doenças fazemos exames e consultas para identificar possíveis problemas cardiovasculares, oncológicos ou para acompanhar peso e diabetes. Mas você se lembra quando foi a última vez que sua saúde respiratória fez parte do seu check-up anual?
Doenças respiratórias afetam milhões de pessoas em todo o mundo e apresentam sintomas muito comuns como tosse, dificuldade para respirar e cansaço, que podem ser facilmente confundidos com outras doenças ou fatores de envelhecimento. Por este motivo um check-up da saúde do seu pulmão é essencial para o diagnóstico precoce de doenças como Asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) ou Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI), e deve ser feito regularmente, principalmente entre os fumantes, ou sempre que apresentar algum sintoma de causa respiratória aparente. Para que o cuidado dos pulmões se torne um novo hábito, confira as dicas do Dr. Mauro Gomes, pneumologista e diretor da Comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia.
- Fique atento aos sintomas
A tosse persistente é um sintoma muito comum e sinal de que os pulmões não estão bem. “Nas crianças por exemplo, se as crises ocorrem particularmente à noite ou nas primeiras horas da manhã, pode ser um indício de asma – doença que causa a inflamação nos brônquios e tem o chiado no peito como sua principal característica. Já nos adultos com mais de 40 anos, o diagnóstico pode ser DPOC, doença causada principalmente pelo tabagismo, que limita o fluxo de ar do paciente de forma progressiva” alerta o Dr. Mauro Gomes.
Outros sintomas comuns são o cansaço e falta de ar. “As pessoas geralmente atribuem esses sintomas ao mau condicionamento físico ou como parte envelhecimento. E, por este motivo, não tem certeza se devem ou não procurar o médico. Mas neste caso devem sim, pois sintomas comuns como esses podem indicar um quadro mais grave como a FPI, que é caracterizada pela formação de cicatrizes, as fibroses, nos pulmões, que ficam mais rígidos e perdem a capacidade de expansão, dificultando assim a respiração do paciente”, completa.
Saiba mais sobre doenças respiratórias:
Asma: caracterizada pela inflamação crônica dos brônquios, ela atinge as vias aéreas pulmonares, prejudicando o fluxo de ar dos pulmões. 90% dos pacientes não têm controle sobre a doença no Brasil[i]. E dependendo com o nível da gravidade, a asma pode provocar sérios impactos na vida do paciente, tais como insônia, fadiga, diminuição do nível de atividades.
DPOC: a sigla indica a combinação de duas condições pulmonares, a bronquite crônica – inflamação dos brônquios e o enfisema – destruição das paredes das células dos pulmões. Poluentes ambientais e gases emitidos pela queima de combustível, também afetam a função pulmonar e são fatores de risco para desenvolver a doença.
FPI: atinge sobretudo pessoas com idade superior aos 50 anos[iii] e sua causa ainda não é conhecida, mas estudos apontam alguns fatores de risco que podem contribuir para o surgimento da doença. Tabagismo, exposição a poluentes, refluxo gastroesofágico, infecção viral crônica e até fatores genéticos são alguns exemplos.
As três doenças não têm cura, mas podem ter seus sintomas controlados. Para evitar limitações na rotina e as crises de exacerbações, siga corretamente o tratamento medicamentoso prescrito, como broncodilatadores e antifibróticos (no caso da FPI), mantenha também uma rotina saudável com alimentação balanceada e sempre com orientação profissional.
- Considere deixar o cigarro de lado
O maior inimigo dos pulmões é definitivamente o tabagismo e parar de fumar é um desafio para a maioria dos fumantes. “Os benefícios podem não ser notados imediatamente, mas surgem já nas primeiras 24 horas. A temperatura do corpo volta ao normal, assim como a pressão arterial; os batimentos cardíacos também se estabilizam, diminuindo assim as chances de ter um ataque cardíaco”, afirma o Dr. Mauro Gomes.
A DPOC é considerada a quarta principal causa de morte no Brasil[vi], e o hábito de fumar está diretamente relacionado a isso. Além disso, a fumaça agrava os sintomas de pacientes com asma.
- Saiba quando procurar o pneumologista
O fato do cansaço ou da falta de ar serem comuns a várias doenças diferentes, muitas vezes, pacientes e familiares não os levam a sério, o que dificulta o diagnóstico de algumas doenças, principalmente as pulmonares. A Fibrose Pulmonar Idiopática, por exemplo, pode levar até três anos para ser diagnosticada corretamente[vii]. A partir das informações sobre os perigos por trás dos sintomas, não hesite em marcar uma consulta com o pneumologista e o inclua em seu roteiro anual de visitas a médicos, para garantir que sua saúde pulmonar esteja em dia.
- Participe dos mutirões de espirometria em sua cidade
A espirometria é o exame capaz de detectar doenças como asma e a DPOC. Ela é feita com um aparelho chamado espirômetro, aparelho que mede a velocidade e a quantidade de ar que inspiramos e expiramos. O Dr. Mauro Gomes explica “a espirometria é solicitada para avaliar o funcionamento dos pulmões e para detectar possíveis doenças. Caso o paciente esteja fora dos padrões normais de acordo com sua idade, ele será contatado para agendar consultas e ter a orientação para o tratamento mais adequado de acordo com a doença diagnosticada e o grau identificado”.
- Pratique atividades físicas de acordo com seu perfil
Muitos pacientes portadores de asma e DPOC evitam praticar atividades físicas por medo de trazer à tona sintomas e crises de falta de ar. Para o Dr. Mauro Gomes, os sintomas podem sim ser desencadeados após exercícios físicos caso o paciente não esteja sob tratamento, mas vários estudos já comprovaram os benefícios da prática regular de atividades físicas para esses pacientes.
“Ao realizar algum tipo de atividade aeróbica três vezes por semana, como corrida, natação ou ciclismo, você ajuda a fortalecer a musculatura do tórax e das pernas, melhora o condicionamento cardiorrespiratório e minimiza a sensação de falta de ar, que se torna menos frequente. Por isso defendemos que a asma não deve ser um fator limitante para a prática de esportes”, finaliza o Dr. Mauro Gomes. Exemplos não faltam. A asma não impediu, por exemplo, que a Marta praticasse esporte de alta performance e fosse eleita a melhor jogadora de futebol do mundo seis vezes.