Quebra de paradigma: Pecuaristas do MS preparam sequestro da cria e da recria para 2021

Produtores sul-mato-grossenses pretendem fugir dos efeitos da falta de pasto na seca colocando volumoso eficiente e de baixo custo no cocho.

Pecuaristas em visita à Fazenda São Judas Tadeu, do grupo De Marchi, cidade Matrinchã, GO – ao fundo rebrota do sorgo utilizado para viabilizar o sequestro e a engorda dos animais na seca. – Foto: Divulgação

Após ver de perto modelo adotado, com sucesso, em grandes fazendas no Vale do Araguaia (GO), um grupo de pecuaristas do Mato Grosso do Sul se prepara, agora, para revigorar e modernizar a produção de carne em suas propriedades. Tudo terá como base uma nova condução da atividade durante o período seco do ano (maio a outubro) fundamentada pela adoção da técnica do sequestro de animais. A ofensiva pretende quebrar paradigmas, uma vez que a ideia é ter fartura de comida para diversos segmentos do rebanho na seca.

Com este objetivo, o grupo pretende produzir volumoso barato e eficiente para alimentar diversas categorias animais no cocho (bezerrada, vacada, novilhada, garrotada, etc.), dentro de um espaço delimitado, retirando (por isso a denominação “sequestro”) os lotes das pastagens, que neste período do ano geralmente têm oferta extremamente reduzida em quantidade e qualidade.

Quando souberam que este modelo estava em processo de consolidação em Goiás, oito produtores resolveram se reunir e agendar uma viagem para ver in loco os resultados dos colegas. Em setembro deste ano realizaram uma expedição técnica até o estado vizinho. Os pecuaristas visitaram quatro fazendas goianas que promovem o sequestro de animais e ofertam volumoso a base de sorgo com genética boliviana – chamado Sorgo Gigante Boliviano (Agri002E) – de baixíssimo custo de produção (a partir de R$ 0,04/kg).

Vacada parida com bezerrada em sequestro na Fazenda Flamboyant do Grupo Lageado, em Mineiros, GO – dieta das fêmeas conta com 10 kg de silagem de sorgo/dia – Foto: Divulgação

Além dos oito produtores, a expedição teve o acompanhamento de seis técnicos da equipe da Latina Sementes, representante da genética Agricomseeds no Brasil. Durante quatro dias a expedição visitou as fazendas Flamboyant, do Grupo Lageado, em Mineiros (GO); J&F Floresta Agropecuária Araguaia, em Nova Crixás (GO); Favorita, do Grupo Kiko´s Ranch, também em Nova Crixás (GO) e São Judas Tadeu, do Grupo De Marchi, em Matrinchã (GO).

“O custo da arroba produzida na seca estava consumindo boa parte de nossa receita. Desde o ano passado resolvemos vender os animais antes deste período, mas assim que as chuvas voltavam tínhamos de comprar. Diante de um preço altíssimo da reposição resolvemos buscar um novo caminho e o uso do sorgo boliviano, viabilizando o sequestro de novilhas, garrotes, vacas e bezerros, nos chamou atenção e resolvemos conhecer a técnica de perto, já usada com sucesso por grandes propriedades de Goiás”, conta o pecuarista Rafael Nunes Gratão, um dos participantes da expedição e cuja família possui propriedade de cria em Corumbá, no Pantanal, e de recria e terminação em São Gabriel do Oeste (norte do MS).

As visitas, segundo Gratão, mostraram que é viável retirar algumas categorias de animais do pasto durante a seca e submetê-las à alimentação no cocho, à base de silagem de sorgo. “Hoje no Mato Grosso do Sul as melhores fazendas obtêm um ganho médio diário (GMD) de até 200 gramas/animal nos meses secos. Caso a gente consiga produzir um volumoso barato que viabilize um GMD entre 600 a 700 gramas/dia, a coisa muda totalmente de figura”, avalia. Ao voltar de Goiás, Gratão se mostrou convencido: “Nunca plantamos o sorgo gigante da Agricomseeds, mas já está em nosso planejamento de 2021 o cultivo de 100 hectares (ha) para tentar alimentar perto de 1.000 cabeças”.

O pecuarista, que preside o Movimento Nacional dos Produtores (MNP), disse que o objetivo agora é trabalhar para disseminar a técnica a todos que tiverem interesse em adotá-la: “O grupo que viajou a Goiás reuniu lideranças de outras entidades da pecuária do MS como a Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce (Novilho MS) e Famasul Jovem e isso certamente facilitará a disponibilidade das informações”.

Pecuaristas do MS em visita à área de sequestro na Fazenda Flamboyant, do Grupo Lageado, em Mineiros, GO – Foto: Divulgação

Números

De acordo com Luis Caires, gestor da Latina Sementes para parte da região Centro-Oeste e Nordeste, o custo de produção da tonelada de silagem de sorgo gira hoje em torno de R$ 40/tonelada (t), enquanto a silagem de milho fica por volta de R$ 150/t. “No custo da colheita, o valor é semelhante, mas já tivemos áreas produzindo até 100 t/ha de silagem de sorgo contra 30 t/ha de silagem de milho”, afirma. Outra vantagem, segundo ele, é a rusticidade do material: “O sorgo gigante da Agricomseeds consegue se dar bem em áreas onde o milho não vinga. Conheço cultivos em áreas com precipitação média de apenas 400 mm/ano onde o sorgo rendeu silagem na ordem de 40 t/ha.”

As sementes do sorgo Agri 002E foram desenvolvidas e são multiplicadas com exclusividade pela Agricomseeds em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.  O material é mais conhecido popularmente como Sorgo Gigante Boliviano pela sua origem e pelo seu porte (atinge alturas superiores a cinco metros). Começou a ser distribuído no Brasil ao final de 2017 e de lá pra cá vem ganhando espaço no País pela seu baixo custo, eficiência, adaptabilidade e versatilidade. Além de seu uso em pastejo direto ou como matéria prima para a produção de silagem na pecuária, o sorgo vem sendo bem utilizado na agricultura para a estruturação de solo, deixando uma palhada de qualidade para o plantio direto.

Em experimentos realizados no Paraná pela G12 Agro Consultoria, sob a coordenação do engenheiro agrônomo Igor Quirrenbach, o sorgo gigante conseguiu uma produção de 105 t/ha de massa verde quando plantado na safra de verão (ao longo de 134 dias) e de 50 t/ha na safra de inverno/safrinha (ciclo de 115 dias). “Na pecuária de corte, por exemplo, um hectare cultivado com o sorgo gigante pode alimentar até oito unidades animal (ua)/ha/ano na primeira safra e cinco ua/ha na safrinha”, garante. O ganho de peso diário (GMD), segundo ele, pode variar entre 0,5 a 1,5 kg, dependendo do nível de suplementação da dieta.

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