Sempre me aparecem no caminho pessoas eternamente insatisfeitas consigo mesmas, a se queixar de solidão, como se residissem num mundo sem vivalma.
Ora, certa manhã, em 21 de setembro de 1996, na inspiradora cidade do Rio de Janeiro, decidi dirigir-lhes uma mensagem, com esta dedicatória: “Poema para os que vivem eternamente a se queixar e que, por isso, se esquecem de viver”.
I
Solidão
Solidão./Quem disse que/solidão… /é você estar/sozinho?!… /Quem o disse/não sabe, mesmo… /Não sabe o que é/solidão… /Solidão é dizer xis… /e ser entendido ípsilon. /Solidão… /é andar acompanhado, /mas não encontrar/ninguém que o encontre… /Solidão é ter que rir, /com a Alma sangrando. /Solidão… é amar/sem que o ser amado/perceba o seu amor. /Solidão é refletir/o grito surdo da Alma, /que não tem som para os ouvidos, /e que precisa ser/escutado por um coração.
II
Parada obrigatória
Ei!… /Que é que está havendo?! /Ah! /É você, egoísmo! /Fora! /Fora! /Foi-se! /Oh! /Agora, sim, posso raciocinar! /E, concluir/com acerto: /Talvez, tudo isto aqui, /que andei poetando, /seja apenas o falar/do egoísmo disfarçado, /cinicamente, /em falsa dor… /Apenas a dor, /do egoísmo, porém… /Porque não se pode/sentir-se solitário/debaixo de um sol deste, /de Copacabana, /com tão belas mulheres, /e crianças, /e vovôs e vovós. /Muito menos, /sentir-se/solitário /com tanta/coisa por fazer… /Gente com fome, /sem teto, /sem roupa, /sem trabalho, /sem estudo, /sem educação, /sem cultura/e longe da Espiritualidade… /Que solidão, nada! /Cale a boca, /egoísmo! /Fora! /Vá procurar sua turma!!… /Tenho mais o que fazer.
Para concluir, este pequeno comentário: o mundo está dividido entre os que apenas se queixam e os que, realmente, procuram fazer alguma coisa.
As multidões estão à espera de socorro.
*José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.