Reflexões Poéticas e Metafísicas em “Vias do Infinito Ser” e “Fiandeira” – obras indicadas pela UFMS

Livros ‘Fiandeira’, de Raquel Naveira e ‘Vias do Infinito Ser’, de Rubenio Marcelo – Foto: Divulgação

Consciente da singularidade da poética de Rubenio Marcelo, mergulhada no espírito dos sentidos com suas temáticas que se fundamentam no concreto e no abstrato, a UFMS, acertadamente indicou, mais uma vez, como leitura obrigatória para o ingresso na Universidade, o belo livro “Vias do Infinito Ser” do autor sul-mato-grossense, agora na lista para o PASSE (Triênio 2022-2024 – 3ª Etapa).

Vias do Infinito Ser, de Rubenio Marcelo, é uma obra de reflexão profunda, centrada na essência do ser humano, suas angústias, dores, questionamentos, reflexões e silêncios. Ressaltam-se versos expressivos nos quais o poeta explora os caminhos percorridos pelo ser, seja em viagens ao seu âmago finito ou em voos vertiginosos pelos limites desconhecidos do infinito. Tudo isso é envolto em uma linguagem poética rica em metáforas, intertextualidades inesperadas e momentos intensos de metalinguagem.

A diversidade de temas, ideias e insights presentes nesta coleção de poemas constrói um repertório de excelência. Rubenio Marcelo navega com complexidade eloquente, evidenciando seu lirismo metafísico, que se volta para uma investigação instigante do ser humano em relação ao mundo e sua inserção nesse plano sensível, tanto individualmente quanto em coletividade – “…por via das dúvidas / há vias de certezas / que nos desafiam a percorrer / in/conscientemente / e em perfeita claridade / a via láctea e o infinito / do nosso ser.” (in Vias do Infinito Ser).

Em “Vias do Infinito Ser”, observa-se a engenhosidade linguística dos poemas de Rubenio Marcelo no uso da metalinguagem: o que configura o caráter de grande valor inventivo. O poeta, no poema, dialoga com a Poesia e reflete sobre seu ofício a tal ponto que ele se sobrepõe à própria vida do poeta.

Da mesma forma, a UFMS indicou a obra Fiandeira, de Raquel Naveira como leitura obrigatória para o Vestibular 2024 da Universidade. São palavras de Raquel na apresentação de sua obra Fiandeira:  “Sou uma fiandeira, / Vivo à beira / De tudo aquilo que é frágil, / Que parece fiapo /Ou que está por um fio.”

Com essa autodenominação, Raquel Naveira junta-se à longa lista de fiandeiras da literatura universal e, da mesma forma que elas, invoca a figura singular das Deusas Tecelãs que fiam e entrelaçam não só a vida humana, mas também o destino do mundo, pois a poeta sul-mato-grossense sabe-se mulher habilidosa em seu ofício ao fiar, tecer e construir o universo que a rodeia.

Imbuída pelo fascínio de suas antecessoras, Raquel Naveira teceu o seu mundo dual – realidade e suprarrealidade, onde fia as emoções, as imagens, os sentimentos compartilhados, as ausências…tudo em inquestionáveis aspectos atemporal e universal.

Embora “Fiandeira” date de 1992, e os tempos modernos sejam outros, Raquel, fiandeira que é, cria um microcosmo em que as ideias, deliciosamente, se tornam atuais, vivas, pois a autora, com o manejo simbólico, controla o destino de seus personagens a partir do conhecimento do tempo tal as antigas fiandeiras.

Graças à arte da autora, seus poemas e textos em prosa ficam-nos na memória, em um   vai e vem constante, seja pelo caráter religioso, existencial, mitológico, de admiração pela terra natal, seus habitantes comuns e/ou personalidades. “Fiandeira” é uma obra de formação, pois Raquel Naveira, com sabedoria e significativa dose enigmática, próprias das singulares tecelãs, traz indubitável aprendizado intelectual e emocional ao leitor, ora apresentando orientações, ora reflexões aos perenes mistérios da vida. Por um lado, simboliza a laboriosidade e a importância do trabalho, no caso, o labor com as palavras; por outro lado, configura-se uma evocação do senso de mistério e magia.

“Fiandeira” é leitura de muitas vezes… É leitura de deleite… É leitura que resiste ao tempo… e quanto mais o tempo passa mais ela cresce e se agiganta.

Rubenio Marcelo com “Vias do Infinito Ser” e Raquel Naveira com “Fiandeira” são exemplos da preocupação da UFMS quanto à valorização da ótima produção literária regional. Ganham todos – a Universidade, os futuros acadêmicos, os leitores, e os autores com suas tão significativas obras.

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(*) Ana Maria Bernardelli é professora, ensaísta, escritora e musicista. Formada em Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. Membro da Comissão sul-mato-grossense de Folclore. Professora especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa, há quatro décadas leciona em cursos preparatórios para concursos públicos e vestibulares. Recentemente, lançou o livro de poemas: Na Trilha das Formigas (Ed. Life). Membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Natural do estado de São Paulo, reside em Campo Grande-MS.

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