O maracujá foi o centro das atenções em dois dias de Reunião Técnica realizada nos dias 22 e 23 de julho de 2021, na Embrapa Agropecuária Oeste. No evento, foram convidados produtores e técnicos. Como foi presencial, uma parte dos convidados participou no primeiro dia e a outra no segundo. Todas as recomendações do protocolo da Covid-19 foram seguidas.
A reunião foi uma realização da Embrapa Agropecuária Oeste e a Secretaria Municipal de Agricultura Familiar (Semaf) e teve apoio do Senar/MS, Sebrae, Apoms e UFGD. Guilherme Cardoso Oba, engenheiro agrônomo do Departamento de Produção da prefeitura municipal de Dourados, representou o secretário da Agricultura Familiar, Ademar Zanatta. Ele relatou que foi estabelecido um plano de trabalho para diversas culturas e que o começo está sendo com o maracujá. “Estimular horticultura não é fácil, é um trabalho árduo, mas começa aqui com o trabalho dos produtores por meio das instituições”, disse Oba. No segundo dia, o secretário Zanatta fez a abertura do evento – confira o áudio no fim da matéria. Confira o áudio também do chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Harley Nonato de Oliveira.
O evento começou com a apresentação de Ivo de Sá Motta, pesquisador em horticultura sustentável, da Embrapa Agropecuária Oeste, com o tema “Produção sustentável de maracujá azedo (amarelo) – práticas agrícolas iniciais”. Segundo ele, o objetivo geral do projeto é contribuir para fortalecer a cadeia produtiva da horticultura (maracujá azedo) em sistemas de produção sustentáveis de Mato Grosso do Sul. “Pretendemos fazer mais três ou quatro videoconferências ao longo do ciclo da cultura para que a gente possa passar em cada etapa as questões mais importantes para os produtores”.
Segundo o pesquisador, os plantios comerciais são baseados em maior parte no maracujá azedo. Para mostrar a diferença de produtividade de maracujá, Motta comparou Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Pelo IBGE de 2019, MS teve uma área 33 ha, produção de 378 toneladas e produtividade de 11,45 ton/ha, abaixo da média nacional. Já Santa Catarina possuía área de 1891 ha, produção de 44.934 toneladas e produtividade de 23,76 t/ha
Sobre as doenças, quanto menos poda, menos se expõe o maracujazeiro a doenças. Só a poda inicial de formação. Mas a virose do endurecimento do fruto é a mais importante, causada pelo vírus CABMV, transmitida pelos pulgões. “Ela acabou com o plantio em muitos estados. Porém, a partir de pesquisas, desenvolveu-se tecnologia para conviver com a cultura”, falou.
O ponteiro da fruta começa a amarelar, com bolhas nas folhas, o albedo da fruta fica espessa, com manchas. “Essa doença já está presente em nosso estado, mas é relativamente baixa ainda. Pesquisadoras da Agraer/Cepaer de Campo Grande, Olita Salati Stangarlin e Aline M. A. Cezar, identificaram a doença aqui no estado. Mas a doença ainda não se manifesta plenamente. Se alguém identificou é interessante que nos comunique. A tendência é que ao aumentar o plantio, ela apareça. A ideia é entrar com a tecnologia já”, alertou.
O modelo tecnológico proposto para o maracujazeiro segue vários passos, como instalar a barreira vegetal, que deve entrar antes da cultura (contorno da área com capim elefante), vai funcionar como um filtro; renovação anual de pomares com período de vazio sanitário em julho (30 dias). “Se quiser produzir em escala, esse modelo tecnológico está sendo plenamente adotado em Santa Catarina”, afirmou Motta.
Seguindo o modelo, fazer a produção de “mudão” em ambiente protegido (em estufas com telado anti-afídeos, antecâmara e cobertura plástica). A semeadura deve ser realizada entre março e abril e o plantio das mudas de porte alto em agosto-setembro; manter a cobertura de solo (entrelinhas vegetadas), realizar o roguing que é a eliminação de plantas sintomáticas; evitar a disseminação da doença por ferramentas ou pela mão; e fazer a adubação equilibrada (planta bem nutrida é mais resistente, principalmente a doenças).
Motta mostrou quais são as etapas para conversão do sistema de produção convencional para o sistema de produção sustentável: procurar, em primeiro lugar, reduzir o número de agrotóxicos. Depois, substituir defensivos químicos por biológicos, extratos vegetais e caldas; redesenhar os sistemas produtivos: barreiras vegetais, solo vivo (práticas de controle da erosão, cobertura do solo (viva ou morta) e matéria orgânica do solo).
Para formar mudas, o que estão propondo são mudas com 100 dias. “É o ideal, porque ela vai com porte menor. Vamos recomendar o plantio mais cedo, a partir de agosto. Semeadura em março e abril no viveiro”, explicou.
Já a preparação da área leva em consideração os seguintes aspectos: eliminar plantas velhas em áreas próximas; evitar baixadas, porque o maracujá não tolera geadas; evitar solos encharcados, porque causa doença radicular; buscar local ensolarado; evitar proximidade do maracujazeiro doente e de áreas com nematoide; coletar amostras de solo para recomendação de calagem e adubação, fazer barreira vegetal: prática fundamental da sanidade da cultura, realizar o controle preventivo de doenças e pragas. “A qualidade da muda começa pela semente, depois do substrato e aquisição de mudas saudáveis (tipo mudão) são fundamentais”, disse. Fazer o sistema de condução em espaldeira (latada como uma possibilidade futura) também faz parte do preparo.
Para o manejo ecológico do solo, é necessário calagem após análise do solo, terraceamento em nível, preparo correto do solo, sulcos em nível ou covas, adubação da cova ou sulcos, aporte de matéria orgânica ao solo com plantas de cobertura, adubos verdes, estercos, compostagem, vermicompostagem e restos culturais e agroindustriais.
Atualmente, o espaçamento adensado é mais adotado em função do ciclo anual da cultura. Entre plantas, adota-se 2,5m. Entre linhas, o mínimo é de 2,5m para cultivos conduzidos manualmente. Em cultivo mecanizados, deve ser adotado de 3m a 3,5m.
Atentar para as datas: época de plantio: semeadura: março, abril, maio. Vazio sanitário: julho Plantio (transplante) em agosto e setembro. Produção: dezembro a junho.
Quanto ao controle de plantas daninhas, são necessárias capinas superficiais, cobertura morta ou plástica (nas plantas), vegetação espontânea ou adubação verde nas entrelinhas, roçada nas entrelinhas e evitar ferimentos superficiais do sistema radicular. Já para o controle de pragas e doenças, entre eles estão o plantio de barreira vegetal, uso de mudas saudáveis e de boa procedência, rotação de culturas periodicamente, manejar corretamente a irrigação, entre outras ações.
O engenheiro agrônomo da prefeitura de Dourados, Guilherme Oba, falou sobre a irrigação. Segundo ele, a demanda hídrica da cultura é de 2700 mm/ano/cultura. Anualmente, em média a chuva em Dourados é de 1400mm, o que mostra a necessidade de irrigação do maracujazeiro. Na fase de desenvolvimento vegetativo (fase I), que corresponde a 0 a 90 dias após transplantio, há a necessidade de irrigar 2,9 L/planta/dia. Na fase de floração, frutificação e produção (90 a 300 dias após o transplantio) (fase II), deve-se irrigar com 23,4 L /planta/dia. No final da produção (300 a 360 dias após o transplantio) (fase III), a recomendação é irrigar 14,5 L/planta/dia.
“A irrigação por gotejamento é o mais recomendado por trazer maior eficiência de uso da água, é um tipo de irrigação que exige baixa pressão de trabalho, causa menor incidência de doenças e plantas daninhas”, disse Oba.
O custo de irrigar não é maior para o maracujá, porque há um espaçamento grande de linhas laterais. A desvantagem é que a filtragem é rigorosa.
Ele exemplificou o manejo da irrigação em uma área de 100 plantas de maracujá, com gotejador de 4,8 L/hora, sendo que são usados dois e a planta no meio, e irrigação em área total uma vez ao dia. Na Fase I, o consumo por dia é de 2,9 L/planta. Isso dá um total de tempo de irrigação de 18 minutos e consumo de 290 L/dia. Na Fase II, o consumo diário por planta é de 23,4 L, com tempo de irrigação de 146 minutos e consumo de 2.340 L/dia. Na fase III, o consumo é de 14,5 L/planta/dia, com tempo de irrigação de 91 minutos e consumo de 1.450 L/dia.
Em seguida, falou o técnico do Senar, Eduardo Soares Neves, apresentando “Maracujá amarelo: cultivo racional e lucrativo”. Ele contou um pouco da experiência que têm no Assentamento Guanabara, a 80 km do município de Amambai, MS. O perfil dos produtores é que são da agricultura familiar, atividade principal é a bovinocultura de leite, quem faz a gestão da propriedade é o casal, a área costuma ter 20 hectares e algumas propriedades são arrendadas e vendidas.
Escolheram o maracujá por ser de ciclo curto, é rentável em pequenas áreas e possui mercado consumidor para atender. São 12 os produtores do assentamento, com uma média de 200 plantas por produtores. Produtores com resultado de 40 kg de plantas. “Alguns meses, a produção alcançou 8 mil kg”, afirmou Neves. O mercado consumidor são empresas de polpas, entregam os maracujás em mercados e frutarias e fazem parte do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
O controle de pragas e doenças foi realizado com calda bordalesa, calda sulfocálcica, produtos à base de cobre, com variedades de maracujá resistentes e outros inseticidas orgânicos. No segundo dia, falaram pelo Senar/MS Darlan Flausino, engenheiro agrônomo, e Murilo Endo de Araújo, técnico do campo da Ateg do Senar/MS.
Para conhecer um pouco mais sobre a Associação de Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul (Apoms), o Antônio Paulo Ribeiro, coordenador técnico da Apoms e presidente da Cooperapoms falou aos presentes. A Cooperapoms é o braço comercial da Apoms para incentivar a comercialização. “A matriz da Associação é em Glória desde 2000, nasceu para trabalhar com café na região e, com o tempo, foi aumentando seu leque, com produtores para trabalhar com agroecologia e orgânicos. Parceiros foram fundamentais nesse trabalho, como a Embrapa, a Agraer”, contou Ribeiro.
A partir de 2010, por projetos, ampliou seu trabalho com a equipe e se credenciou como certificadora do sistema Sistema Participativo de Garantia (SPG) no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ribeiro falou que a Apoms possui projeto com a Petrobras para fazer articulação com os produtores e dar condições de infraestrutura. “Produzir é fácil, comercializar é difícil. Baixa capacidade de mão de obra, dificuldade de logística. Baixo número de mão de obra nas nossas propriedades é comum. E nossos jovens estão saindo do campo. Por isso a Apoms traz essa preocupação com esse processo de comercialização”, disse.