Em sua décima edição, a revista “Por Escrito” promove uma reflexão multidisciplinar sobre as práticas corporais e motrizes que as crianças desenvolvem em sua vida cotidiana. A publicação é editada pela Fundação Arcor e Instituto Arcor Brasil e este número, lançado no início de 2016, reúne, portanto, uma série de artigos sobre a relação entre infância, corpo e movimento. A edição pode ser consultada ou baixada pelo site do Instituto Arcor Brasil (www.institutoarcor.org.br).
Do que um corpo é capaz?”. Segundo Ana Abramowski e Cecília Elizondo, coordenadoras editoriais da edição, a pergunta feita no século XVII pelo filósofo Baruch Spinoza é o eixo da coleção de artigos reunidos pela “Por escrito”.
Após comentar o conteúdo dos artigos, muitos deles documentando experiências de sucesso relacionadas às práticas corporais infantis, as coordenadoras advertem que os corpos presentes na edição “não somente saltam, dançam, correm ou se deslocam”. E elas explicam por que, como um convite ao mergulho na leitura de todo o denso material incluído na revista: Os corpos que se movem são também – e principalmente – aqueles que subvertem as normas existentes e têm a coragem de romper as barreiras estabelecidas.
Infância e movimento – Uma avaliação da finalidade da educação física na escola é feita no artigo “Educação e movimento” por Mario Di Santo, professor de ensino fundamental e de Educação Física, consultor internacional da Sport City, docente de Ginástica III do IPEF, de Córdoba, Argentina. O articulista destaca a importância do movimento e nutrição, observando que, nos tempos atuais, “se movimenta pouco e come não somente o que pode, mas o que quer, o que não deve, come muito e mal”.
A presença do corpo na escola é, igualmente, o tema em questão no artigo “O corpo e as relações pedagógicas”, de Daniel Brailovsky, doutor em Educação, professor em diferentes institutos e universidades, sendo autor, entre outros livros, de “El juego y la clase: Ensayos críticos sobre la enseñanza post-tradicional” (Noveduc, 2011). Ele faz um convite a que se coloque o corpo no centro das relações escolares, como caminho para que “a vida na escola seja uma experiência com sentido”.
A importância do movimento para o desenvolvimento integral dos bebês é, por sua vez, o tema da entrevista com Silvia Chiappino e Liliana Gruss. Como parte da equipe do Centro de Educação Infantil Piluso, da TV Pública argentina, elas desenvolveram um trabalho baseado nos princípios da médica húngara Emmi Pikler (1902-1984). Uma de suas ideias é a de que a motricidade é natural nas crianças e não deve ser imposta pelos adultos.
“O ponto de vista cria o objeto: atividade(s) física(s) e práticas corporais” é o título do artigo de Ricardo Crisorio, professor de Educação Física e Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Nacional de La Plata. Crisorio defende a crítica dos conceitos e palavras associadas à pratica da atividade física e, em troca, apresenta a proposta de utilização do conceito de prática corporal.
Uma das práticas corporais mais amadas em todo planeta, o futebol, é o foco da entrevista com o ex-jogador argentino Claudio Marangoni, que atuou em clubes importantes como San Lorenzo, Independiente e Boca Júniors. Formou-se em Cinesiologia pela Universidade de Buenos Aires e desde 1984 dirige a Escola Modelo de Futebol e Esportes “Claudio Marangoni”.
“Movimentar-se: é pedir demais?” Esta é a pergunta que, de sua parte, dá o título ao artigo de Fernando Concha Laborde. Ele é professor de Educação Física e autor de diversos livros sobre atividades físicas para crianças.
Em seguida, “Os movimentos na infância” são o tema do artigo de Adelsin, educador brasileiro que trabalha com o movimento e a vida ativa, de forma associada com a pesquisa que faz de jogos e brincadeiras típicos da cultura popular. Adelsin defende, de fato, a ligação entre atividade física e práticas corporais com a poesia e a música, como ingredientes essenciais ao desenvolvimento integral das crianças.
Obra pertencente a uma das linguagens artísticas mais impactantes do mundo contemporâneo, o cinema, o filme “Pequena Miss Sunshine” (EUA, 2006, direção de Jonathan Dayton e Valerie Farís, é analisado por Cecilia Elizondo. Descrevendo a viagem da família de Olive até o concurso de miss infantil do qual ela sempre sonhou participar, a autora pontua os questionamentos que o filme faz a padrões estéticos estabelecidos e ao processo de “adultização” das crianças.
“Movimento na infância: combustível para o desenvolvimento” é o título do artigo dos brasileiros José Angelo Barela, do Instituto de Ciências da Atividade Física e Esporte –ICAFE, Laboratório para Análise do Movimento (LAM), Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo (SP), e do Departamento de Educação Física, do Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Rio Claro (SP), e Eric Leal Avigo, do Instituto de Ciências da Atividade Física e Esporte –ICAFE, Laboratório para Análise do Movimento (LAM), Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo (SP). Eles reiteram a importância da motricidade durante a infância, como etapa nevrálgica para o desenvolvimento humano.
A dançarina e professora Marta Lantermo também é entrevistada ela revista “Por Escrito”. Há 30 anos ela promove o trabalho corporal em crianças pequenas. Ela assinala como é “fundamental a consciência do movimento e sua relação com o desenvolvimento da inteligência, além da sua importância na formação da confiança”.
“As cidades como espaço de aprendizagem”, de Guillermo Ríos, é o último artigo da nova edição de “Por Escrito”. O autor é professor em Ciências da Educação e coordenador acadêmico do Congresso Internacional de Cidades Educadoras, que será realizado em Rosário, Argentina, em junho de 2016. Ele comenta a experiência de Rosário como Cidade Educadora, como território de aprendizagem, o que inclui naturalmente o incentivo à atividade física e o movimento.