Meu avô paterno, Seu Dito, era um bom contador de histórias. Contava com a mesma ênfase, fatos e ficções. Suas palavras e imaginação traziam tanto realismo que todas as narrativas estavam ali, tão perto, que emprestavam um ao outro personagens, ambientes, cores e magia. Na cabeça infantil, aos poucos, já não se distinguia a estrada… dos sonhos.
O ano de 2020 tem sido um duro caminho. Quantos sofrimentos, medos e inseguranças… Tragédias pessoais se somam diariamente. E às dores ainda se adicionam mesquinharias, oportunismos. Mas, quando recordarem deste ano, verão que os que melhor alcançaram a outra margem, não o fizeram sem a companhia daquilo que se pode considerar a essência da vida, da dignidade humana, do belo, da arte, dos sonhos.
Por isso, para nós que ainda atravessamos esse “deserto” árduo, será imprescindível uma força extra, que venha nem que seja da própria imaginação. E mesmo que o “oásis” seja apenas uma miragem, o importante é que alimente o próximo passo e nos ajude a vencer esse imenso desafio.
Em meio a tanta aridez, neste domingo (24/05) celebra-se a Ascensão do Senhor e junto o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Papa Francisco escreveu uma mensagem para este momento: “Para que possas contar e fixar na memória (Ex 10,2). A vida faz-se história”. O texto é um desses “oásis” necessários. Nesta secura que vivemos, faça uma pausa e encharque sua alma com as palavras do papa! (Coloco-as em versos):
“Penso que precisamos de respirar
a verdade das histórias boas:
histórias que edifiquem,
e não as que destruam;
histórias que ajudem a reencontrar raízes
e a força para prosseguirmos juntos.
Na confusão das vozes
e mensagens que nos rodeiam,
Temos NECESSIDADE duma narração humana,
que nos fale de nós mesmos
e da beleza que nos habita;
uma narração que saiba olhar o mundo
e os acontecimentos com ternura,
conte a nossa participação num tecido vivo,
revele o entrançado dos fios
pelos quais estamos ligados
uns aos outros.”
Com profunda beleza em seu texto, Papa Francisco compara as histórias que contamos com o ato de tecer. Palavras como fios, que carregam significados, mensagens, belezas; que podem compor um “tecido” diferente, que nos faça sentir parte de uma grande família na Terra; encantador, que revele a grandeza da dignidade humana, imagem e semelhança do belo por excelência.
O desafio está lançado! Contei a minha. Qual história é a sua? Que memória pode te trazer forças hoje e alimentar a sua vida? Agora é a sua vez!
* Osvaldo Luiz Silva é jornalista, autor dos livros “Ternura de Deus” e “A vida é caminhar”, pela Editora Canção Nova, e membro da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), em Cachoeira Paulista (SP).