No início pode até parecer um incomodo gástrico, mas os sintomas recorrentes, como a azia, queimação e regurgitação podem esconder o desenvolvimento de uma doença crônica: o Esôfago de Barrett. Diretamente ligada ao refluxo gastroesofágico, a doença se caracteriza por alterações nos tecidos que revestem a parte final do esôfago, órgão que faz parte do sistema digestório e conecta a cavidade oral ao estômago. Considerada uma condição pré-cancerosa, a doença é apontada por especialistas como um dos principais fatores de risco do câncer de esôfago.
O cirurgião oncológico da Oncomed-MT, Rafael Vilá Moura, explica que quando o refluxo da secreção ácida produzida pelo estômago, acontece de forma recorrente causa uma agressão lenta e gradual no esôfago, culminando no desenvolvimento do Esôfago de Barrett. Na maioria das vezes, de forma assintomática. “É comum que o diagnóstico aconteça em pacientes na faixa entre 50 e 60 anos, a maioria homens. Geralmente a doença é descoberta por meio de um exame denominado endoscopia digestiva alta, onde são analisados os tecidos do esôfago, além do estômago e duodeno (porção inicial do intestino delgado)”.
O tratamento do refluxo envolve uma série de orientações ligadas diretamente aos hábitos de vida. “É necessário evitar o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas. Bebidas gaseificadas e à base de cafeína, alimentos muito condimentados e com alto teor de gordura também devem ser evitados”. O médico pontua, ainda, outros métodos que auxiliam neste controle. “Orientamos também o paciente a evitar deitar-se duas horas após as refeições e a fazer a elevação da cabeceira da cama. Utilizamos também medicamentos com o objetivo de controlar o retorno do ácido estomacal para que o refluxo não ocorra com frequência e provoque lesões no esôfago”.
A obesidade, principalmente a central (com concentração de gordura na parte abdominal) também está diretamente ligada ao desenvolvimento da doença do refluxo gastroesofágico. A manutenção do peso corporal adequada é essencial para evitar fatores de risco relacionados ao surgimento do refluxo e consequentemente do Esôfago de Barett. Além da obesidade, o histórico familiar também deve ser levado em consideração para a realização de exames de rastreio.
Evolução do tratamento – Tradicionalmente o Esôfago de Barrett era tratado com a esofagectomia, uma cirurgia para a retirada parcial ou total do órgão, um procedimento que possui riscos de complicações consideráveis. Com os avanços tecnológicos, outras técnicas ganharam espaço no tratamento da doença. “Hoje em dia, conseguimos fazer o tratamento, principalmente em estágios iniciais, de maneira menos invasiva, por meio da endoscopia utilizamos técnicas de ressecção (remoção) ou ablação (cauterização) do tecido pré-canceroso”.
Quando não tratado, o esôfago de Barrett pode evoluir para um adenocarcinoma, um tipo de câncer de esôfago. Segundo o especialista, é importante sempre estar atento ao surgimento de alguns sintomas que podem indicar a progressão da doença para o câncer. Entre os mais comuns estão a má digestão, perda do apetite, perda de peso inexplicável, anemia, dificuldade ou dor para engolir, vômitos recorrentes, além de sinais de sangramento gastrointestinal (vômitos ou fezes com sangue).
“A manutenção de hábitos de vida saudáveis, a identificação e o tratamento de doenças digestivas como o refluxo é essencial para evitar não só esse, mas outros tipos de doença. A prevenção é sempre o melhor caminho a ser seguido” ressalta.