Sectei e FCMS entregam carteira nacional do artesão a internos do Presídio de Trânsito

Foto: Daniel Reino/FCMS

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Campo Grande (MS) – Em solenidade realizada na manhã desta quarta-feira (28) no Presídio de Trânsito, custodiados cadastrados receberam da Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei) e da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) a carteira nacional do artesão, emitida por meio do Programa do Artesanato Brasileiro. Também foi realizado o lançamento do Projeto Construindo a Liberdade, que tem por objetivo criar um núcleo interno para gerenciar atividades artesanais no presídio.

A solenidade foi iniciada pelo interno Wemerson Araújo da Silva, que tocou ao violão e cantou a música “Raridade”. Logo após tomaram posse o diretor do Presídio de Trânsito de Campo Grande, Claudiomar Suszeck, e o diretor do Centro de Triagem Anísio Lima, Alírio Francisco do Carmo. Em seu discurso, Suszeck afirmou estar feliz com o projeto de artesanato desenvolvido no presídio e com a entrega da carteira nacional do artesão. “Fico muito feliz com estas ações. Estes projetos são anteriores à minha gestão, mas pretendemos dar continuidade para que os internos sejam beneficiados com essa perspectiva de uma profissão, de algo melhor para quando saírem daqui”.

Foto: Daniel Reino/FCMS

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A promotora da 50ª Promotoria de Justiça, Jískia Sandri Trentin, afirmou estar feliz por poder participar do momento da união de vários órgãos na realização deste projeto. “O Ministério Público não faz nada sozinho. Parabenizamos a Agepen [Agência de Administração do Sistema Penitenciário] por compreender a necessidade de melhorar sempre os trabalhos. Agradecemos a parceria com o secretário de Cultura, Athayde Nery e reconhecemos a importância de a Sectei apoiar as atividades da Agepen. A carteira do artesão vai ajudar muito nessa missão de ressocialização dos internos por eles terem uma atividade”.

O secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Athayde Nery, agradeceu a presença das autoridades, internos e funcionários do sistema penitenciário no evento e cumprimentou os dois novos diretores empossados. “É uma honra estar aqui em nome de nossas gestoras do artesanato, Katyenka [Klain] e Rejane [Benneti Gomes]. O governador Reinaldo está muito entusiasmado com esse projeto do artesanato sob o ponto de vista da ressocialização. Os meninos que receberam a carteira terão nova perspectiva ao sair do presídio, após cumprir sua pena. Este ano já foram entregues cerca de 90 carteiras do artesão no total, nos presídios de Campo Grande. Foram contemplados o Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi, Presídio masculino de Segurança Média Anízio Lima, Instituto Penal de Campo Grande e hoje aqui no Presídio de Trânsito”.

Foto: Daniel Reino/FCMS

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Athayde lembrou também que a presidente Dilma sancionou na semana passada a lei que regulamenta a profissão de artesão. “No Festival América do Sul oferecemos um espaço para comercialização das peças produzidas nos presídios e também colocamos à disposição a Casa do Artesão. Conversei com o diretor da Agepen, Ailton Stropa, sobre a possibilidade de ampliarmos as manifestações artísticas nos presídios, como teatro, coral, dança. Fico feliz de construirmos juntos uma cultura de integração nesse processo de recuperação”.

Em seguida, o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, parabenizou os novos diretores, “que já estão trabalhando há algum tempo mostrando seu valor [o termo de posse é datado de 24 de julho de 2015]. Nossos servidores são ímpares no desenvolvimento desses projetos no presídio. Agradecemos a dedicação da promotora Jískia e temos agora a presença do [secretário] Athayde, essa parceria nos honra muito. Levamos o desafio das carteiras ao secretário e as coisas muito rapidamente foram acontecendo. Parabenizo os internos pelo trabalho, agora podem ter uma nova profissão para no futuro possuírem novos valores, como o trabalho, a família, Deus”.

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Receberam a carteira nacional do artesão dois custodiados, Durval da Costa Filho, do Pavilhão 1, e Maycon William Camargo da Conceição, do Pavilhão 2, representando os 29 internos cadastrados do Presídio de Trânsito que vão receber as carteiras. Maycon tem 26 anos, está no presídio há seis meses e há dois meses realiza trabalhos em crochê. “Comecei por conta própria. Outros presos que já faziam artesanato me ensinaram a fazer tapetes, bonés, chapéus, bolsas. Eu vi os outros fazendo, achei interessante e pedi para eles me ensinarem. Depois comecei a fazer as aulas no presídio. Eu não recebo visitas, então as visitas de outros custodiados encomendavam tapetes para mim, eles me davam o material e eu recebia em troca mais material ou pagamento em dinheiro. Com o dinheiro eu comprava mais linha na cantina do presídio. Decidi fazer a atividade para passar o tempo na cadeia. Quando sair daqui vou continuar fazendo, cada vez tentando melhorar. Com a carteira do artesão, vou ter uma profissão, vou poder vender meus produtos e participar de feiras”.

Maycon e Durval fazem parte do Projeto Construindo a Liberdade, que também foi lançado oficialmente durante a solenidade. O projeto é realizado pela Agepen por meio de parceria com a 50ª Promotoria de Justiça de Mato Grosso do Sul e o Conselho da Comunidade de Campo Grande. Foi elaborado pela psicóloga Elaine Cristina Souza Alencar Cecci e pela assistente social Isa Bambil, ambas funcionárias do Presídio de Trânsito. O projeto, além de criar um núcleo interno para gerenciar as atividades artesanais do presídio, oferece também aos custodiados cursos profissionalizantes na área.

Foto: Daniel Reino/FCMS

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A psicóloga Elaine explica que uma vez por mês é ministrado ou o curso de barbante, com a instrutora Junara Bardella, ou o curso de MDF, com a assistente social Isa Bambil. Os custodiados participantes possuem uma ficha individual. Eles trabalham habilidades manuais com material reciclável, como garrafas Pet e madeira, para produzir peças decorativas. “Os trabalhos são feitos nas celas, mas eles utilizam a sala de artesanato para finalização com material que não pode ir para a cela. A cada três dias trabalhados é um dia a menos no cumprimento da pena. As atividades são feitas de segunda a sexta-feira, cada galeria tem um coordenador que recolhe o material produzido e anota na ficha para comprovar que a semana foi produtiva, e assim é feita a avaliação”.

O custo total do projeto está estimado em cerca de R$ 3.900,00 (três mil e novecentos reais), com recursos disponibilizados pelo Conselho da Comunidade para a compra de materiais. “Quando o investimento em material é do preso, 100% do valor da peça é dele. Quando tem fornecimento da unidade, o interno fica com 30% do valor da peça”, explica Elaine. “A maior parte das peças é comercializada dentro do presídio, entre os familiares e visitantes, tudo é vendido muito rapidamente. Mas também há a feira anual ‘Artesão Livre’, no saguão do Fórum, que já teve quatro edições; temos a parceria com a prefeitura para comercialização dos trabalhos na Cidade do Natal este ano e a Casa do Artesão. A aceitação nas feiras é muito boa”.

Ao final da solenidade, os presentes puderam apreciar algumas peças expostas, que foram produzidas por internos que fazem parte do projeto.

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