No fim de 2014, o grupo Jaguar Land Rover começou a construir sua primeira fábrica no Brasil, que será inaugurada em 2016 na cidade fluminense de Itatiaia após um investimento de R$ 750 milhões. Os indianos, donos da marca inglesa, foram os últimos a seguir caminhos trilhados por outras empresas gringas nos últimos anos. Nacionalizar seus modelos mais vendidos, como a BMW fez com o Série 3, ou suas apostas para o futuro, a exemplo do Jeep Renegade. Mas o que fazem as montadoras sem margem de capital? A solução mora ao lado: montar seus veículos no Uruguai.
De acordo com Ricardo Pazzianotto, sócio da consultoria PwC e especialista no setor automotivo, a alta do câmbio e o Inovar-Auto são os principais fatores para esse movimento. “Como o Brasil desenvolveu um regime automotivo que exige mais em termos de investimento das montadoras, novas marcas que desejam experimentar o país como mercado acabam encontrando no Uruguai uma forma de começar”, diz. Nos anos 1990, o país ficou conhecido por ter sido o berço do Renault Twingo. Embora alguns caminhões da marca francesa ainda sejam produzidos lá, agora quem encabeça o mercado de veículos para exportação são as orientais: a sul-coreana Kia e as chinesas Chery, Lifan e Geely.
Diferente do México ou da Argentina, por exemplo, que detêm alguma tradição no setor automotivo, o Uruguai atrai seus fabricantes pelo bolso. “As montadoras têm 10% do valor exportado em créditos para pagar outros impostos ou vender para outras empresas. Para isso, elas devem ter pelo menos 20% das peças vindas do Mercosul, o que facilita bastante a montagem de qualquer veículo por lá”, afirma Pazzianotto. A intenção, segundo o consultor, é estimular a produção no país, que hoje tem um volume de vendas diminuto, na casa das 50 mil unidades anuais. Apesar disso, um acordo bilateral limita a importação de veículos naturalizados Uruguai os a 20 mil unidades a cada ano.
Em geral, as empresas optam por um modo de produção chamado CKD (Complete Knock Down), em que a fábrica matriz envia peças para unidades de montagem menores. A maior parte do processo é feita por mão de obra operária, e não por robôs. É assim na linha em que o hatch Geely GC2 é montado, por exemplo, em Montevidéu, visitada pela equipe de Reportagem da Autoesporte em 2014. Lá, a produção fica a cargo da empresa Nordex, que alterna a produção do sedã EC7 e do hatch, devido à baixa capacidade das instalações. Outra razão para adotar o CKD é a falta de fabricantes de autopeças, como motores e transmissões, no país. A saída é importar peças chinesas para criar um carro uruguaio.
Latin NCAP
A neutralidade do Uruguai em relação à indústria automotiva foi um dos motivos para o órgão que testa a segurança de carros latino-americanos escolher o país como sede. Segundo a entidade, como não há laboratórios certificados na América Latina, testes ainda são feitos na Alemanha, perto de Munique.
Chery Brasil
Apesar de ainda importar alguns veículos do Uruguai, a Chery inaugurou em 2014 sua fábrica em Jacareí (São Paulo), com capacidade produtiva inicial de 50 mil carros por ano, após investimento de US$ 500 milhões. De lá, sairão Celer hatch e sedã e, ainda no primeiro trimestre de 2015, o QQ reestilizado.
Equivalência
Em 2013, foram vendidos 57.333 carros e veículos comerciais leves no Uruguai, segundo a Ascoma, associação local de marcas e concessionários. Isso equivale, por exemplo ao total de Palios que a Fiat emplaca em cerca de dois meses e meio aqui. Por lá, a Chevrolet foi a marca que mais vendeu naquele ano.
Aliança mercosul
Em 2013, 49,3 % dos veículos produzidos pelas montadoras abaixo no Uruguai foram exportados para o Brasil; confira como foi cada marca.
Em 2013, foram vendidos 57.333 veículos no Uruguai, ante mais de 3 milhões no Brasil, o equivalente a 1,6% do mercado nacional
Fonte: Auto Esporte