Primeiro de outubro, quinta-feira, 16 horas. Na Edu Rocha, imediações do Estádio Arthur Marinho, em Corumbá, uma comitiva de políticos liderada por um candidato a prefeito circula sem respeitar qualquer protocolo de biossegurança, como se vivêssemos nos tempos pré-pandemia.
Sem usar máscara e causando aglomerações, sob o causticante sol pantaneiro a reclamar das queimadas infernais, a comitiva de autoridades — afinal, havia pelo menos um gestor nesse grupo que não demonstrou qualquer empatia — adentrou sem prudência e respeito pelo próximo na casa de uma das mais antigas moradoras do bairro, de 92 anos, do grupo de risco: além da idade, é cardíaca e obesa.
A vizinhança tem conhecimento de que a matriarca, cuja história de Vida é digna de registro na História de Corumbá — é filha de participantes da Coluna Prestes e viúva de um dos primeiros taxistas da cidade –, vem procurando manter o necessário isolamento social, a despeito da total falta de bom senso de pessoas que seguem o mau exemplo dos que estão na vida pública sem apresentar qualquer preocupação pelo alastramento da pandemia. O exemplo, aliás, tem sido dado, desde o início da pandemia, pela maior autoridade do Executivo federal, para desapontamento de todos.
Não vem ao caso se é da situação ou da oposição. O fato é que a comitiva de candidatos não só descumpriu o protocolo de biossegurança vigente por força de decreto municipal, como deixou explícita sua despreocupação pelo próximo, num momento em que a pandemia já vitimou quase 150 pessoas em Corumbá.
A total falta de carinho por alguém com mais de 90 anos, que sequer foi avisada com um mínimo de antecedência de que seria alvo de uma visita de políticos ávidos de votos e destituídos de pudor cidadão. A senhora está em pleno gozo de suas faculdades mentais e manifesta constantemente sua preocupação com o alastramento da pandemia, razão pela qual faz o sacrifício de permanecer confinada, a despeito do calor pantaneiro que não só causa desconforto como prejudica a saúde de pessoas de todas as idades, ainda mais as idosas, que por educação permitem o ingresso de pessoas que projetam uma imagem que sequer cumprem publicamente.
Afinal, adentrar à moradia com uma dezena de apoiadores não só representa desrespeito explícito à legislação antipandemia em vigor, como evidencia, de pronto, a índole delinquente — do clássico “sabe com quem está falando?” — de postulantes aos mais importantes cargos da administração municipal. Como deve agir como autoridade se como candidato demonstra total desprezo pelo cidadão comum, como que as pessoas só tivessem importância, valor, até a hora do voto, para depois serem descartadas?
É urgente que a Justiça Eleitoral não só exija respeito à legislação municipal vigente, como aplique penalidades no âmbito eleitoral. Se se previsse a cassação de candidatura daquele que não demonstrasse um mínimo de empatia neste momento de pandemia, duvido que esses “lapsos” estariam a ocorrer à torta e à direita em Corumbá, Ladário e por todo o país. Esse filme de terror, aliás, temos visto em escala federal, para vergonha de todos.
*Ahmad Schabib Hany
