Beira o surreal a conduta nada republicana do atual inquilino do Planalto. Seu comportamento nunca convenceu os menos desatentos leitores da impren$a balofa ou da ágil mídia altiva, mas a obsessão de aprovar as tais “reformas” para cumprir compromissos inconfessáveis pactuados para angariar apoio à sua aventura golpista, isso já extrapolou o limite da racionalidade.
Dias Gomes, o genial criador de Odorico Paraguaçu, teria granjeado o Nobel de Literatura para o país caso ainda estivesse entre nós, pois não lhe faltaria farto material para um inesgotável enredo capaz de superar o não menos genial García Márquez em seu célebre “Cem anos de solidão”, entre outras obras não menos ricas e originais.
Uma de suas declarações mais recentes deixou patente que, com leviandade insana, recorreu à intervenção federal da segurança pública no Rio de Janeiro como mecanismo de pressão aos parlamentares indecisos ou não suficientemente convencidos da necessidade dessa reforma na previdência. Em outras palavras, vale-se da chantagem para convencer e obter maioria, já que por vias escusas, largamente usadas desde sua “entronização” no cargo para o qual não foi nem seria, jamais, eleito, não estava obtendo sucesso.
Nada ético, nada republicano, ele vem agindo com um grau de cinismo de causar inveja a tiranos que entraram para a história por sua insanidade e obtuso irracionalismo. Canastrão, pois sua encenação é incapaz de convencer os mais ingênuos espectadores daquela emissora que bancou o golpe e hoje quer a sua cabeça por ter sido incompetente para realizar o pactuado.
O oportunismo dessas medidas se constata na inexistência de dados que justifiquem, em estatísticas oficiais confiáveis, as tais medidas. Até onde a imprensa independente teve acesso, não houve qualquer aumento expressivo da violência que fundamentasse a medida, que foi preparada pelo nefasto núcleo de poder coordenado por Moreira “Angorá” Franco, Carlos “Metralha” Marun, Eliseu “Qua” Padilha e, pasmem, Rodrigo “Botafogo” Maia (genro e beneficiário de “Angorá”). Além de hábeis no desvio das funções republicanas, o que essa corja entende de segurança pública? De privada, isso lá, talvez…
Como descendente de libanês, causa-me perplexidade e vergonha a postura insolente desse que, se estivesse na terra de seus pais, não teria chegado à metade do tempo que permanece. Se as autoridades (de lá) já não tivessem tomado a medida cabível – o Legislativo lá não tem esse grau de submissão, de um servilismo de lesa-pátria –, a população se encarregaria de tomar as ruas para demonstrar seu descontentamento e sua vontade de destituí-lo do cargo que usurpou acintosamente. Não faltará algum detrator da honorabilidade do civilizado povo libanês (e árabe, por extensão) para dizer que o “terrorismo” e o “sectarismo” poderiam atentar contra a integridade física dele, mas não seria verdade, pois as vezes em que líderes (líderes, bem entendido!) libaneses perderam a vida pela ação de “terroristas”, descobria-se que a procedência era o Mossad, serviço secreto de Israel, sempre em sintonia com o estadunidense. Assim como aqui, lá não se mexe em coisa fedorenta.
Até quando as amplas camadas populares permanecerão impávidas e passivas ante tanto deboche e acinte à inteligência do cidadão comum e anônimo? É preciso ignorar a tal intervenção e ir pra rua. Desobediência civil, já!
*Ahmad Schabib Hany