Sócio-fundador da SOBRAMFA Educação Médica e Humanismo , o professor doutor Pablo González Blasco – um dos nomes mais importantes da Medicina Humanista no mundo todo – se aproxima de seu público-alvo (estudantes, médicos e demais profissionais da área da Saúde) para debater os caminhos da Medicina centrada no paciente em meio à pandemia que já atingiu mais de um milhão de pessoas globalmente, tendo levado à morte mais de 55 mil. A série “Humanismo médico em tempos de crise” é composta de vídeos curtos, com acesso totalmente gratuito, que recorrem sempre ao Cinema para refletir sobre a profissão de médico, sobre empatia, gestão e atendimento no sistema de Saúde.
Em isolamento preventivo – e atuando fortemente no suporte às equipes de médicos que estão na trincheira do atendimento em hospitais e residenciais de idosos, responsáveis por mais de 14 mil pacientes em São Paulo -, Blasco finalmente encontrou o tempo necessário para maturar as ideias e estabelecer uma comunicação direta com quem se dispõe não só a “pensar” a Medicina, mas principalmente percebe que é preciso mudar.
“Dizem que, depois dessa tragédia global, nada será como antes. Torço mesmo para que a educação médica revise suas prioridades, seja ensinada de um jeito todo novo. É preciso despertar no estudante de Medicina a vontade de confortar, depois de aliviar as dores, e por último curar. Não o contrário, como sempre acontece. Afinal, levar conforto ao paciente soa como prêmio de consolação por ter perdido todas as outras batalhas, mas isso não é verdade. Só receio que, tendo o homem a capacidade de se esquecer das tragédias por que passou, nada seja feito de concreto para formar médicos com um perfil mais humanista depois de enfrentarmos a crise atual”, diz o médico.
No vídeo #1 , Blasco começa citando a frase do médico humanista Gregorio Maragñon: “A vaidade é sempre um entrave para o trabalho bem feito. O médico dogmático vive escravo de sua reputação, ignorando que esta serve não para que sua família se envaideça, mas para arriscá-la sempre que for preciso manter alto o moral dos pacientes. O moral alto é quase sempre o melhor remédio e às vezes o único que podemos receitar” (La medicina y nuestro tiempo,1954). Diante da pandemia do novo coronavírus, o professor questiona se os médicos estão todos assustados e, por consequência, assustando os pacientes, ou se estão buscando confortar quem mais precisa neste momento.
No início do vídeo #2 , Blasco fala sobre a importância de elevar o moral, também, dos médicos e equipes de saúde que estão abalados diante do cenário que enfrentam. Citando o filme Eu sou a lenda, com Will Smith, o médico reprisa o trecho em que – diante de um cenário pós-apocalíptico – o protagonista persiste na mensagem: “Você não está sozinho”. “Nós médicos não devemos nos tocar, mas podemos e devemos conversar – até mesmo para gerenciar a crise. Não devemos falar somente sobre a tragédia que enfrentamos, mas sobre cada vitória conquistada, cada paciente curado. Afinal, também há casos evoluindo bem. O contato entre profissionais da saúde não deve ser através da disseminação de notícias ruins, catastróficas. Parece sair fumaça do whatsapp hoje em dia. Ao contrário, é preciso abrir espaço para a conversa entre médicos, para sentirem que não estão sozinhos”.
O vídeo #3 traz relatos de que, diante do Covid-19, as equipes de atendimento em Saúde não estão unidas, estão desorganizadas e perdendo o foco. O professor Pablo Blasco, então, recorre a uma cena do filme Brigada 49, com John Travolta e Joaquin Phoenix. Diante da morte de um bombeiro, os demais começam a se desentender na busca de um culpado. Neste ponto, o chefe dos bombeiros diz: “Nós lidamos com isso ficando unidos. Nós suportamos, aprendemos com isso. E nós voltamos à maldita viatura e assim homenageamos o Dennis”. O médico, então, tece comparações: “Esse é o recado. Quando estamos unidos, conseguimos enfrentar. A união faz a força não é um ditado, mas uma realidade. Só assim honramos o colega que desaparece e cumprimos nossa missão”. Mais uma cena trazida à luz da reflexão vem de Gladiador, seguida de uma cena de Spartacus. Diante da possibilidade de os prisioneiros escravizados serem todos livrados da crucifixão se apontassem Spartacus – considerado o inimigo número do sistema, o que se vê é a união de todos, cada um se levantando e dizendo “Eu sou Spartacus”. Como diz o professor, “Spartacus é uma ideia, é uma missão muito maior do que os que lá estão. Pense nisso: você e eu somos Spartacus!”.
O Prof. Dr. Pablo Blasco começa o vídeo #4 refletindo sobre o ditado: “A ordem dos fatores não altera o produto”. Em Medicina, segundo o especialista, a ordem dos fatores está diretamente relacionada ao resultado que se obtém. “Na Medicina tradicional ensinamos a curar. Quando isso não é possível, ensinamos a aliviar a dor. E quando nenhuma das duas coisas é muito provável, teríamos que ensinar a confortar. O problema é que, quando nos deparamos com uma situação como a que estamos vivendo, em que a cura é algo absolutamente relativo, percebemos que muitos dos médicos não estão preparados, não sabem como confortar – ainda que queiram muito. O problema, então, é a ordem dos fatores. O que se espera do médico ainda é curar, esse é o ouro olímpico. Mas, em circunstâncias críticas como a de agora, o recurso preponderante deveria ser saber como levar conforto aos pacientes. É preciso ensinar a confortar sempre”. O médico recomenda o filme Moscati, o amor que cura – disponível na íntegra e com legendas na web (http://www.youtube.com/watch?v=s9egeSEVId8). “Como educador, depois dessa tormenta que estamos atravessando, espero que a educação médica seja outra, que revise suas prioridades e altere a ordem dos fatores”.
Mais informações: http://pablogonzalezblasco.com.br/category/videos/