Um esforço científico conjunto entre a Embrapa, a Latina Seeds e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária e Ambiental (Fundapam) começa, ainda este ano, a identificar as melhores alternativas de cultivo do Sorgo Gigante Boliviano em consórcio com capins (gêneros Braquiária e Panicum) para alimentação de bovinos na entressafra. O acordo tornou-se oficial esta semana com a publicação do extrato de cooperação técnica no Diário Oficial da União (em 25.10.21).
O projeto “Sorgo com Forrageiras para Intensificação da Produção” tem seu período de execução compreendido entre outubro de 2021 e agosto de 2023. O objetivo final é desenvolver um novo sistema produtivo envolvendo o sorgo AGRI 002E, que chegou ao mercado brasileiro em 2017 e rapidamente caiu no gosto do pecuarista, ganhando o nome popular de Sorgo Gigante Boliviano (o híbrido supera facilmente os cinco metros de altura e foi desenvolvido ao longo de mais de uma década na Bolívia).
A ideia é avaliar a melhor combinação do “Gigante” com forrageiras perenes, visando a produção de silagem e renovação de pastagens. A parceria quer identificar soluções de consórcios para áreas argilosas e arenosas, tudo objetivando a intensificação da produção pecuária no Brasil. O projeto envolve equipe técnica e recursos da Embrapa e da Latina Seeds. A Fundapam, por sua vez, é a encarregada da gestão dos aportes.
A pesquisa está concentrada em duas áreas em Mato Grosso do Sul: uma na Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (solo argiloso) e outra no município de Jateí (solo arenoso, mais ao sul do Estado), graças a uma parceria com o Sítio Cantinho do Céu. Relatórios técnicos estão previstos para serem divulgados em abril e julho de 2022 (resultados parciais) e em março de 2023 (resultados finais).
Internacionalização
De acordo com o diretor executivo da Latina Seeds (empresa de desenvolvimento, produção e comercialização de sementes híbridas de sorgo e milho), Willian Sawa, nesta cogeração de tecnologia o “Gigante” poderá potencializar todos os seus principais predicados. Dentre os quais ele ressalta a alta produtividade (possibilidade de mais de 100 t/ha), tolerância ao estresse hídrico, reduzida suscetibilidade a doenças e pragas, qualidade bromatológica e versatilidade: “Muitos produtores brasileiros usam este nosso sorgo não só como alimentação eficiente para os bovinos, mas também como ferramenta para restruturação de solos, reforma de pastagens, na geração de bioenergia e até como elemento fertilizador”. Toda a base genética da Latina Seeds, origem do Sorgo Gigante Boliviano, está alicerçada no programa global denominado Agricomseeds.
Segundo Sawa, este futuro sistema de produção para a pecuária, que começa a ser cientificamente desenhado, já provoca reações de produtores fora do Brasil: “Recebemos contatos de grupos de pecuaristas da Bolívia e do Paraguai, interessados nesta iniciativa. Portanto, são grandes as chances deste modelo ser internacionalizado, tendo como ponto de partida o estudo brasileiro viabilizado por esta cooperação técnica”.
Resgatar áreas degradadas
A incorporação produtiva de áreas com pastagens degradadas é, segundo o chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Harley Nonato de Oliveira, desafio emergencial para a agropecuária brasileira. Segundo ele, a pesquisa com o Sorgo Gigante Boliviano pode desenvolver soluções que ataquem diretamente este problema: “Temos convicção de que a experiência da Embrapa em sistemas de produção integrados, aliada ao material genético de um sorgo diferenciado e à atuação forte no mercado da Latina Seeds, enfrentará este desafio e permitirá que, em breve, os pecuaristas tenham à sua disposição uma alternativa interessante para recuperar a capacidade produtiva de suas terras”, projeta.
A pesquisadora líder do projeto pela Embrapa Agropecuária Oeste, Marciana Retore, se mostra bem otimista com as possibilidades versáteis que um consórcio Sorgo Gigante Boliviano/capim pode trazer para a pecuária brasileira: “Uma das principais vantagens do uso deste sorgo é a rebrota, que permite mais de um corte para a produção de silagem, reduzindo os custos de produção. Além disso, ele tem maior tolerância ao estresse hídrico, baixo custo para produção de silagem e menor demanda por nutrientes, em relação ao milho, podendo ser uma boa alternativa para as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil”.
Sobre a pesquisa, Retore detalha a necessidade de avaliar os conjuntos: “O sorgo é uma das poucas culturas que possui todos os requisitos para que o processo fermentativo do material ensilado ocorra de maneira ideal, sem necessidade de aditivos. No entanto, não se conhecem as características fermentativas da silagem quando se aumenta a participação do capim no material. Após a colheita da rebrota do sorgo, será avaliada a formação e qualidade da pastagem”.