Suécia deixará de financiar UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos

Agência está envolvida com terrorismo. País nórdico recorrerá a outros canais para fornecer ajuda humanitária para Gaza

A Suécia não financiará mais a UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (20) pelo ministro da Assistência Social do país, Benjamin Dousa, que acrescentou que a ajuda humanitária à Faixa de Gaza será realizada por meio de outros canais.

Sede da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) em Gaza. (Foto: Ziad Taleb/UN)

O cientista político André Lajst, especialista em Oriente Médio e presidente executivo da StandWithUs Brasil, explica que a substituição da atuação da UNRWA pela de outras instituições, como anunciado pela Suécia, é algo viável. “Prova disso são as organizações envolvidas na distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, muitas delas como agências da própria ONU, a exemplo do World Food Programme (WFP), da UNICEF e da Organização Mundial da Saúde (OMS), as quais não têm ligações com grupos terroristas”, aponta.

Israel proibirá as operações da UNRWA no país a partir do final de janeiro, devido ao envolvimento da agência nos ataques liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023. “Porém, Israel está comprometido com o direito internacional e em assegurar a entrega de ajuda por meio de outras entidades, garantindo o bem-estar da população do enclave palestino. A UNRWA se tornou parte do problema, e não da solução para o conflito”, afirma Lajst.

Gráfico com dados da COGAT, órgão de coordenação e facilitação da ajuda humanitária para Gaza, mostra que a UNRWA não é a principal fonte de assistência para os palestinos. (André Lajst via Instagram)

UNRWA e terrorismo

De acordo com o The Wall Street Journal, pelo menos 12 funcionários da UNRWA participaram do massacre do dia 7 de outubro e cerca de 1.200 dos empregados pela organização na Faixa de Gaza – o equivalente a 10% da força de trabalho – possuem algum tipo de ligação com o Hamas e a Jihad Islâmica, grupos terroristas palestinos. A própria ONU reconheceu a legitimidade das denúncias feitas por Israel este ano e demitiu nove pessoas.

Além disso, ao longo do último ano, Israel forneceu diversas evidências do envolvimento de membros da UNRWA no massacre realizado pelo Hamas em 7 de Outubro. Mussalem al-Naami, por exemplo, um dos assistentes sociais da agência da ONU, foi responsável por sequestrar o corpo do israelense Jonathan Samerano, assassinado no Festival Nova. Até hoje, Ayelet Samerano, mãe do jovem, pede à ONU que pressione o Hamas para que o corpo de Jonathan, ainda na Faixa de Gaza, seja devolvido.

Apesar disso, a ONU segue negligenciando o envolvimento da UNRWA com o Hamas. O Secretário-Geral da organização, António Guterres, chegou a fazer uma postagem nas redes sociais em outubro deste ano lamentando a morte de Muhammad Abu Attawai, eliminado pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) na Faixa de Gaza. O indivíduo, empregado pela UNRWA desde junho de 2022, era comandante do batalhão Bureji, das forças Nukhab do Hamas. No 7 de Outubro, Attawai assassinou e sequestrou diversos israelenses nas proximidades do kibutz Re’im.

Assistência a refugiados

A UNRWA foi fundada em 1950, para atender às necessidades dos árabes que foram deslocados durante a Guerra de Independência de Israel (1948-1949). Na época, ainda não havia nenhuma legislação internacional sobre o status de refugiados e a UNRWA deveria ser uma medida provisória. Com a Convenção de Genebra de 1951 e o Protocolo de 1967, que estabeleceram o ACNUR, a agência da ONU para refugiados, a UNRWA deveria ter sido extinta; o que não aconteceu.

A UNRWA atende apenas aos refugiados palestinos, os quais possuem uma definição de refugiados diferente da aplicada aos de todas as demais nacionalidades, que estão debaixo do mandato do ACNUR. A maior diferença entre as duas organizações, no entanto, é que enquanto o ACNUR busca encontrar uma solução definitiva para os refugiados, reassentando-os em outros países e defendendo o retorno deles às nações de origem apenas quando possível, a UNRWA faz o oposto, tendo como única solução o retorno dessas pessoas para os locais onde os seus pais e avós viviam; no caso, para Israel.

Tabela detalha as diferenças entre as agências da ONU para refugiados. (André Lajst via Instagram)

Segundo Lajst, isso não apenas prolonga, por gerações, o status de refugiados entre os palestinos, como ainda é um grande empecilho para a solução do conflito no Oriente Médio. “Os netos e bisnetos dos demais refugiados do mundo não são refugiados, mas cidadãos dos países onde nasceram. Se fossem tratados desse modo, os palestinos que hoje estão debaixo do mandato da UNRWA viveriam melhor, com mais direitos. Isso teria evitado grande sofrimento, principalmente na Faixa de Gaza, onde a agência da ONU foi praticamente sequestrada pelo Hamas e a Jihad Islâmica. Sem falar que a manutenção do status de refugiados para os palestinos por décadas, dificulta ainda mais a solução do conflito palestino-israelense, alimentando falsas ilusões sobre um suposto ‘direito de retorno’ dessas pessoas a territórios que hoje fazem parte do Estado de Israel”, explica o cientista político.

Posicionamento da ONU

As Nações Unidas fizeram duras críticas a Israel após a aprovação das leis que restringem a atuação da UNRWA no país. Vários parceiros de Israel, como os EUA, também expressaram preocupação com a medida, isso porque hoje a agência da ONU, apesar de tudo, ainda é utilizada na distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Israel, porém, já anunciou que novas medidas serão adotadas para que os moradores do enclave palestino sejam assistidos, inclusive a cooperação com outras agências da própria ONU.

Em última instância, os principais responsáveis pelo fracasso da UNRWA são a própria ONU e os países que, durante décadas, financiaram a agência, insistindo na manutenção de um status de refugiados diferenciado para os palestinos, tratando-os de modo diferente dos refugiados de outras nacionalidades. Isso para não mencionar a negligência diante da influência que o Hamas passou a ter sobre a UNRWA, comprometendo toda a sua atuação”, ressalta André Lajst.

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