Fiscalizar o trânsito nas rodovias federais, atender vítimas de acidentes e operar nas fronteiras brasileiras para inibir a passagem de objetos ilegais. Esse é o trabalho do policial rodoviário federal — uma rotina intensa, marcada na maioria das vezes, por cenas de morte e violência e pelo contato com a criminalidade.
Diante dessa realidade enfrentada diariamente, o Programa de Saúde do Servidor (Proserv) da Superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Mato Grosso do Sul, em 2015, identificou o segundo maior motivo para o afastamento de policiais: transtornos psiquiátricos. Naquele período, essa era a alegação de 26% dos profissionais que tiraram licença. Cenário que mudou um ano depois, após a instauração de um projeto realizado em parceria com a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) que visa a promover a saúde mental e a qualidade de vida do trabalhador.
“Fomos procurados pela própria PRF que expôs o problema e pediu ajuda. A partir daí foi assinado um termo de cooperação técnica entre as duas instituições, em agosto de 2016. Começamos o trabalho com um treinamento em grupo de desenvolvimento de relações com os profissionais que integram o setor de Recursos Humanos do órgão e também iniciamos os atendimentos individuais. Após isso, em um ano, já conseguimos reduzir para 15% o número de profissionais afastados por transtornos psiquiátricos”, explicou a coordenadora geral do projeto e docente da UCDB, Dra. Liliana Andolpho Magalhães Guimarães.
O trabalho envolve acadêmicos de Psicologia e alunos do Mestrado e Doutorado da área e permite o acompanhamento psicológico dos profissionais por meio de atendimentos clínicos realizados tanto na própria sede da PRF, em Campo Grande, quanto na Clínica-Escola da UCDB.
“Na superintendência há o plantão psicológico, em que o trabalhador pode ser atendido no próprio local de trabalho, caso haja necessidade. É feita uma triagem e, se necessário, o policial é encaminhado ao atendimento psicoterapêutico no ambulatório que funciona no setor de Psicologia da Clínica-Escola”, esclareceu Alessandra Laudelino Neto, de 43 anos, mestranda em Psicologia que auxiliou na instauração do projeto e, também, na criação de um protocolo de atendimento quando fazia estágio supervisionado, ainda na graduação.
Atualmente, Alessandra integra um grupo de oito alunos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia que participam do trabalho e orientam alunos da graduação. Na Clínica-Escola da UCDB há uma sala de espelho que permite ao acadêmico ouvir e assistir o atendimento feito pelo supervisor, com o consentimento do paciente, para que ele aprenda como proceder e, então, possa conduzir o trabalho com o apoio dos mestrandos e doutorandos.
Além de melhorar a qualidade de vida e a saúde mental dos policiais rodoviários federais, a técnica tem auxiliado na formação de psicólogos. Sylvio Tutya, por exemplo, é acadêmico do 10º semestre e há um ano participa do projeto como plantonista na PRF. “Estar inserido em uma ação como essa é algo inovador no campo acadêmico e contribuiu muito para o meu aprendizado. Como tenho que estar preparado para atender os policiais independentemente da situação, isso me motivou a adquirir mais conhecimento e a experiência que vivi aqui com certeza vai ajudar muito na minha carreira clínica e profissional”.
Mesmo diante de ações de sucesso, o projeto não para de evoluir. De acordo com a professora Liliana o próximo passo agora é confeccionar um guia composto pela descrição das doenças mentais mais comuns. “O material será disponibilizado no sistema da PRF de modo que os policiais tenham acesso. Essa é uma forma de conscientizá-los de que essas patologias existem para que consigam identificar caso estejam com sintomas e procurem ajuda”, esclareceu.
Reconhecimento
O projeto realizado pela Superintendência da PRF em Mato Grosso do Sul em parceria com a UCDB foi considerado este ano pelo Departamento Nacional da Instituição uma das três melhores iniciativas do país em prol da saúde mental e da qualidade de vida do servidor. Além disso, em julho deste ano, a Católica foi uma das dez instituições homenageadas pelo órgão estadual por colaborar para o crescimento da corporação.
“Esse projeto é inovador para a nossa Instituição, pois permitiu uma melhor qualidade de vida e saúde mental para os policiais, tanto que vai servir de modelo para que seja implantado em outras regiões do país. Somos muito gratos à UCDB pela excelência no trabalho que é prestado”, elogiou o superintendente da PRF no Estado, Luiz Alexandre Gomes da Silva.
“O reconhecimento demonstrado pela PRF vem ao encontro do que a gente acredita de fato, que é o estabelecimento de fontes entre a Universidade e os órgãos que nos representam. Nesse caso esta integração resultou na melhora da qualidade de vida e saúde mental dos profissionais, o que com certeza vai melhorar os serviços prestados por eles e, por isso, diretamente melhoraremos a sociedade como um todo”, pontou professora Liliana.