Ufa, cheguei

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Bastou uma rápida greve dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo, para nos lembrar que, morar em uma cidade grande, onde o sistema de transporte coletivo não atende às necessidades dos habitantes é um ônus insuportável. Foi um movimento parcial, de apenas dois dias, mas o suficiente para causar grandes transtornos aos habitantes da maior cidade do País. A dependência de transportes sobre pneus e suas consequências para a sociedade, a economia, as metrópoles e a Nação ficaram ainda mais evidentes na paralisação dos caminhoneiros, em 2018, cujas graves sequelas ainda estão presentes.

Não existem soluções mágicas para o problema da mobilidade e dos transportes/logística, mas com certeza, o planejamento a longo prazo poderia fazer muita diferença. É impensável que um país de dimensões continentais como o nosso praticamente não invista em ferrovias e hidrovias. Privilegiou-se a construção de estradas e o transporte rodoviário por ônibus e caminhões. Mas, hoje, nem isso funciona, pois é grande a parcela da malha viária nacional em situação precária.

No tocante às grandes cidades, como São Paulo, as ruas foram planejadas há décadas, para o trânsito de uma quantidade determinada de carros por hora. Porém, em muitos momentos, recebem volume muito maior. Ou seja, não houve verdadeiramente um planejamento, que contemplasse projeções da expansão demográfica e da frota de veículos. Também sem estudos abalizados, implantaram-se recentemente os corredores de ônibus, que, de um lado, melhoraram o tempo médio dispendido em viagens coletivas, mas de outro, sufocaram o transporte individual ao longo destas vias e degradaram a paisagem urbana. Implementaram-se centenas de quilómetros de ciclofaixas que, passados alguns anos, estão deterioradas e não conseguem oferecer segurança. E, assim, vão-se realizando obras pontuais, sem estudos prévios aprofundados e eficazes. Não existe solução imediatista. Há alternativas viáveis, mas elas precisam ser baseadas no planejamento urbano, com uma visão de longo prazo, pois algumas delas são caras e podem demorar anos para serem concluídas.

Para cidades com forte adensamento urbano e recursos financeiros, o metrô é a melhor opção, justamente por ser rápido, seguro e eficiente. O problema é que é caro e leva anos para ser construído. Dependendo do tamanho e complexidade, o quilômetro construído pode custar milhares de dólares. Para se ter uma ideia, no caso da linha 4 do metrô paulistano, o valor médio foi de US$ 220 milhões.

Os corredores de ônibus são mais viáveis, mais rápidos para ser implementados e com menor custo (cerca de US$ 10 milhões por quilômetro, em média), mas precisam ser suficientemente eficazes e confortáveis para estimular os proprietários de automóveis a deixarem estes na garagem e optarem pelo coletivo. Há, ainda o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que enfrenta dificuldades de implantação por causa dos custos, mas que têm apresentado bons resultados para curtos deslocamentos.

Formas alternativas estão sendo adotadas pelas pessoas, como patinetes elétricos e bicicletas pay-per-use, mas que encontram limitações pela falta de segurança. Embora conceitos simpáticos e de apelo tecnológico-ambiental, são individuais e elitistas.

Em São Paulo, uma das cidades mais afetadas pela precariedade dos deslocamentos urbanos, teríamos, ainda, uma alternativa sequer cogitada: a navegabilidade dos rios Pinheiros e Tietê. O seu uso agregaria imenso potencial para desafogar o trânsito, proporcionando meio seguro, barato e rápido de transporte coletivo.

Se não planejarmos, continuaremos correndo atrás do crescimento demográfico, da expansão da frota de veículos e do crescimento desordenado, seguindo com obras improvisadas para atender precariamente ao crescimento urbano. O planejamento urbano com foco em cidades compactas, onde as distâncias entre os locais de moradia, trabalho, escolas, comércio e serviços são mais curtas, com adensamento populacional mais intenso e uso do solo mais diversificado, apresentam melhores condições de deslocamento e, por consequência, melhor saúde de seus moradores, que andam mais a pé e de bicicleta, vencendo o sedentarismo e causando menos poluição pelo não uso do automóvel.

Já vemos algumas consequências positivas da força do planejamento urbano, no novo Plano Diretor em São Paulo. Novos lançamentos de prédios residenciais e comerciais estão ocorrendo junto aos sistemas de transporte coletivo (metrôs e corredores de ônibus). Essa proximidade dos meios de transporte é essencial para facilitar a mobilidade dos moradores da cidade. Medidas como essa, com fulcro no planejamento urbano, devem ser multiplicadas e somadas a outros investimentos de longo prazo, para tornarmos as cidades, locais mais amigáveis e gostosas de viver.

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