As vacinas contra a Doença de Gumboro – uma das principais causas de problemas imunológicos em aves, sendo responsável por importantes prejuízos para a cadeia da produção de carne de frangos e de ovos – estão em constante evolução e novos produtos chegam ao mercado, com tecnologias inovadoras, nos fazendo descobrir novas maneiras de prevenção e controle. Uma dessas tecnologias, que chegou ao Brasil em 2020, é MB-1, vacina de imunocomplexo natural, para uso em dose única ainda em incubatório.
Após a injeção do vírus de MB-1, esse vírus é revestido e temporariamente neutralizado pelos anticorpos maternos (Maternal Derived Antibodies – MDA), formando um imunocomplexo natural. Com a deterioração desses anticorpos, o vírus é liberado e se replica na Bursa de Fabricius (órgão linfoide primário), induzindo resposta imune. Esta característica faz com que a proteção ocorra precocemente – cerca de quatro dias antes quando comparada às vacinas de imunocomplexo convencional. Isso ajuda a diminuir a janela imunológica e melhora a proteção contra os vírus de campo.
O comportamento desta vacina em aves com diferentes níveis de anticorpos foi estudado por Rosenzweig et al. (2018), em ensaio no qual foram correlacionados os níveis de anticorpos maternos, a chegada do vírus vacinal na Bursa e a sorologia destas aves. Como resultado, ficaram demonstradas as diferenças entre os grupos estudados.
Para demonstrar esse modo de ação em frangos de corte comerciais de um dia de vida, foram trabalhados dois grupos, os quais receberam injeções subcutâneas de MB-1 no primeiro dia de vida. Para essa divisão, foi feita a sorologia das aves, que verificou níveis de MDA e, com base nos resultados, os grupos foram montados da seguinte forma: grupo LL (baixo nível de MDA), contendo aves com título médio de ELISA – uma das várias metodologias para análises laboratoriais – de 1.832 (mínimo 605 e máximo 2.996), e grupo HL (alto nível de MDA), contendo aves com título médio de 5.778 (mínimo 3.821 e máximo 9.862). A replicação do vírus MB- na bolsa cloacal foi analisada paralelamente ao monitoramento da soroconversão nas aves.
No grupo LL, o vírus iniciou a replicação na bursa 18 dias após a vacinação (PV) e atingiu seu pico 21 dias após a vacinação, enquanto no grupo HL a replicação do vírus na bolsa atingiu seu pico no 28º dia após a vacinação. A soroconversão nas aves do grupo LL ocorreu 6 dias mais cedo do que nas do grupo HL. Os resultados demonstram que o nível de MDA teve efeito direto sobre o início da replicação viral e a imunização de cada ave dependia do seu próprio título de anticorpos maternos. Também não foram observadas diferenças sorológicas para Doença de Newcastle, demonstrando que não houve dano imunológico decorrente da vacinação com MB-1.
O modo de ação da MB-1 é mediado pelos anticorpos maternos (MDA), que são transmitidos da galinha para o pintinho, e o início da replicação do vírus vacinal na Bursa é dependente desses anticorpos.
Mesmo em aves com baixos títulos de MDA, o vírus vacinal não é detectado antes dos 18 dias de idade. E o início da imunização é individual, ocorrendo de forma precoce em aves com baixos níveis de MDA quando comparado às aves com altos títulos de MDA. Assim, o início da imunidade e soroconversão também ocorrerá antes em aves com baixos títulos de MDA.
Estes dados corroboram com os apresentados por Rafael Martello e seus pesquisadores parceiros (2020), que pesquisou o comportamento da vacina MB-1 no Brasil, em aves comerciais com diferentes níveis de anticorpos maternais, e comprovam que a vacina de imunocomplexo natural tem tecnologia inovadora, segura e eficaz no controle da Doença de Gumboro. Para conhecer os resultados desse importante estudo, te convidamos a assistir à palestra de Rafael Martello, médico veterinário e assistente técnico sênior da Phibro Saúde Animal, durante a Conferência Facta 2021: https://www.youtube.com/watch?v=JScS1JzjH0I.
*Eva Hunka, médica veterinária pela UFRPE, mestre em medicina veterinária preventiva pela Unesp e gerente de negócios biológicos da Phibro Saúde Animal.