Ele já poderia estar aposentado, diante de todas as conquistas internacionais que tem em sua trajetória. Mas o santista Valmir Nunes (Memorial) continua querendo superar desafios, quebrar barreiras. Aos 51 anos, enfrentará novamente a “Badwater”, a mais difícil corrida do Mundo, com 217 km em pleno Deserto do Vale da Morte, nos Estados Unidos, com a temperatura passando dos 50 graus. A prova terá largada na madrugada de terça para quarta-feira (3 horas de Brasília).
Campeão em 2007, com recorde superado em quase duas horas, o ultramaratonista santista decidiu voltar para comemorar seus 25 anos nas provas de longa distância, numa carreira premiadíssima. “Nada melhor do que comemorar essa trajetória correndo numa prova que eu gosto. Nunca vi lugar tão bonito. É maravilhoso”, diz. “E senti saudades”, acrescenta, com simplicidade, Valmir Nunes, que na prova correrá com o número 30.
A preparação final para o novo desafio foi realizada em Boulder City, a cerca de 40 quilômetros de Las Vegas e Valmir diz estar totalmente adaptado ao clima, que poderia ser o mais empecilho. “Cheguei antes para aclimatação. Estou tranquilo. É um deserto, com montanhas. Humidade quase zero. Exige muito”, conta o corredor, acostumado a vencer adversidades: calor desértico, frio de congelar (venceu uma prova a 20 graus negativos), dores intensas.
E a explicação para essa força é básica: “Tem de treinar muito”, revela o atleta. “Sinto dores, mas a pior dor é aquela de não terminar a prova, de não correr bem. Eu sempre me preocupo com a minha saúde. Quando vejo que a situação não é favorável, eu paro. Corridas existem muitas, eu sou um só”, destaca Valmir.
Na sua primeira participação completou o percurso em 22 horas 51 minutos e 29 segundos, sendo o primeiro homem a correr abaixo de 24 horas. Agora, a expectativa é tentar baixar essa marca. Mas ele sabe que existem uma conjunção de fatores para que tudo dê certo. O primeiro, sem dúvida, é a condição física, que garante estar muito bem.
A segunda é a parte psicológica. “Tento esquecer as coisas. Penso muito na Kelly (sua esposa), nos amigos, no Pepe (Altstut, proprietário da Memorial). Se não fosse o Pepe, não estaria correndo até hoje. Me patrocina há 25 anos e sempre me apoiou totalmente”, comenta. “Numa prova dessas tem de ter muito objetivo, foco”, explica.
E por último, é preciso estabelecer a estratégia de prova, com uma excelente equipe de apoio. “Terei seis pessoas comigo. A cada dez minutos eles têm de me molhar, porque é muito seco. Qualquer falha na estratégia e jogamos tudo fora”, ressalta.
Para ele, a sorte é que este ano a prova terá largada às 23 horas, ao contrário de antes, às dez da manhã, devido ao forte calor. “Isso ajudará bastante. É muito duro passar no deserto. A secura é total. Estou bem confiante. Vim para garantir o bicampeonato”, anuncia Valmir Nunes, que junto com a Memorial tem os patrocínios da Fupes e ‘The Right Stuff’.
Considerado o melhor e mais experiente ultramaratonista do Brasil e um dos maiores do Mundo, Valmir Nunes corre esse tipo de prova há exatos 25 anos. São mais de 30 títulos internacionais. Alguns emblemáticos, como a própria Badwater. Ainda nos Estados Unidos venceu outras disputas desafiadores, como a Winter 100 Miler & 24 Hour Ultra Marathon, embaixo de neve, sendo a segunda vez a 20 graus negativos.
A lista de conquistas é grande em provas que pouquíssimos no Mundo conseguem ter esse retrospecto parecido. Entre eles, o bicampeonato mundial dos 100 km em 1991, na Itália, e 95, na Holanda (onde garantiu o recorde de 6h18min09s) e a emblemática Spartathlon, na Grécia, com 246 km. Também estabeleceu o recorde das Américas em 24 horas, com nada menos que 273,8 km percorridos em Taiwan, em 2003. Há, também, o bicampeonato na ProvaPico Subida de Veleta, na Espanha, com 50 km só de subida íngreme.
Fonte: FMA Notícias