O Brasil e o mundo assistiram às tristes cenas de violência e vandalismo em Brasília recentemente. Muito mais do que o patrimônio, foram atingidas a democracia e a República. Atacar as sedes dos três Poderes é um ato que não pode ser tolerado nem relativizado. Há diversas outras maneiras de se reivindicar pautas, quaisquer que sejam. Independentemente da posição política, uma escalada violenta jamais validará um discurso – muito pelo contrário, tem capacidade de fazê-lo cair por terra.
O que vimos foram imagens assustadoras, na mesma medida que revoltantes. A depredação do patrimônio público, com destruição dos belos edifícios projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, afronta a memória nacional. No episódio, foram perdidos registros históricos, obras de arte, materiais importantes da gestão, enfim, nossa história. É irracional não ponderar sobre tudo isso antes de iniciar ação desse tipo. Reforço: esta nunca seria uma forma efetiva de jogar luz sobre uma reivindicação e, da maneira como ocorreu, acabou por minar as chances de êxito dos requerentes.
Vivemos um processo eleitoral altamente disputado em 2022, cheio de faíscas e tensões. O povo brasileiro foi às urnas e decidiu quem seriam seus representantes. É da democracia saber ganhar e perder, festejar a vitória e reconhecer a derrota. Por vezes, surge o sentimento de indignação, que pode ser legítimo, mas este deve ser aplacado pela consciência de que, no regime político em que vivemos, a vontade da maioria é soberana. Há quatro anos pela frente para tentar, no próximo pleito, reverter o quadro. O que não condiz com uma sociedade democrática é questionar, sem provas, a legitimidade de um processo auditado à exaustão, com uma revolta geralmente vista em crianças que ainda não aprenderam a receber um ‘não’. Mais temerário é tensionar o tecido social e político em uma tentativa de reverter o resultado. Reforço: questionar, dentro da normalidade, é sempre bom e válido, bem como demonstrar a insatisfação; mas há que se saber o limite.
Me questiono qual seria o propósito ou a ideia de quem se propõe a perpetrar atos de vandalismo contra prédios públicos do centro do poder. Não se pode esperar que tal agenda surta real efeito, uma vez que, na contramão, apenas mancha a imagem dos protestantes. Para protestar ou reivindicar algo, é preciso agir com inteligência e usar a estratégia correta, a fim de alcançar o objetivo pretendido. A violência, no entanto, não levará a tal destino.
*Janguiê Diniz, fundador e presidente do Conselho de Administração do grupo Ser Educacional