Difíceis os tempos que vivemos. Enfrentamos terríveis tragédias climáticas. Conflitos armados e guerras. Crescente violência rural e urbana, sem respeito à diversidade. Crises econômicas. Recorrentes surtos, até pandemias, de doenças que matam (covid, dengue, zika, chikungunya, H1N1, hantavírus, mpox, e a retomada da poliomielite, hepatite B, tuberculose e difteria). Por fim, políticos e gestores públicos muito aquém do desejável, são candidatos às eleições municipais deste ano.
A tecnologia da informação cresce bem acima da educação e cultura. Cada vez mais, pessoas que não entendem o que recebem nas redes sociais agem contra elas próprias por desconhecimento do que leem. Acreditam nas fake news disseminando o ódio, causando o mal.
A publicidade das campanhas, os debates, as pesquisas de opinião apontam os menos éticos, despreparados e sem condições de ocupar cadeiras nos parlamentos e/ou governar, com chances de serem eleitos. Consequência da falta de educação e cultura. Historicamente governantes golpistas e corruptos não investiram nessas áreas, não deixaram o povo ser politizado porque, claro, gente preparada os rejeita.
A mídia, legítima e séria, luta para informar, trazer fatos e desmentir desonestas versões. Sofre o combate dos poderosos (políticos e seus financiadores). Afinal, como sempre digo, a imprensa existe para defender governados, não para agradar governantes. É difícil conviver com candidatos que não têm o mínimo respeito por eles mesmos, muito menos para com os demais. Sempre defendi que liberdade de expressão exige responsabilidade de expressão. Quem propaga mentiras, faz grosserias deve ser punido exemplarmente.
A legislação eleitoral não contribui para uma isonomia, a publicidade dos candidatos acontece em condições financeiras desiguais. Existe nas rádios e nas TVs um horário eleitoral gratuito. São altíssimos os custos para, com renomados marqueteiros e excelentes equipes de produção contratados a peso de ouro, criar o que será veiculado na tal propaganda eleitoral “gratuita”.
É assim que a banda toca… O que nos resta? Desistir, votar em branco ou anular como forma de protesto?
Ao contrário, o voto deve ser consciente, responsável. Não cabe pensar que o candidato escolhido não será eleito, e votar no que está liderando as pesquisas. Não se trata de ganhar ou perder. Porque escolher sem convicção, acreditar que não “perderá” o voto, será uma derrota de todos. O tal “voto útil” pode ser bem inútil.
O que deve prevalecer é a qualidade da escolha, e pelos predicados do candidato. Sua origem, sua comprovada honestidade, capacidade, propostas e como irá realizar cada uma delas. Eleição é festa da democracia, não “balada”. O ato cidadão de votar impõe cuidados na escolha de quem irá ao parlamento, quem irá ao governo.
Todos os candidatos dizem e prometem o mesmo: que têm origem simples; conhecem o sofrimento do povo; irão cuidar de saúde, educação, moradia, emprego, segurança, transportes. Mas, qual deles está dizendo – como e com quais recursos – cumprirá com o que anuncia? Bom lembrar que todos dependerão dos eleitos às Câmaras Municipais para aprovar projetos. Seu candidato a prefeito tem os mesmos compromissos do seu candidato a vereador? Isso também importa.
Respeite você, todos nós, sua cidade. Respeite o poder do seu voto!
*Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura; autor, dentre outros livros, de “A vila que descobriu o Brasil”, “Justiça seja feita” e “Memórias de um tempo obscuro”.