Energia limpa e acessível é uma das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Porém, ainda hoje, há no mundo cerca de 1 bilhão de pessoas que não têm acesso à energia elétrica, e um milhão delas vive no Brasil, especialmente na Amazônia. São indígenas e ribeirinhos que enfrentam o desafio de viver sem energia. Quando possível, gastam o pouco dinheiro que possuem abastecendo geradores com diesel ou gasolina.
Visando debater os desafios e oportunidades da geração elétrica em regiões isoladas e remotas, o WWF internacional organizará, com participação brasileira, o evento Unravelling the mystery towards green and universal energy access for the last mile areas. Ele acontece no dia 14 de dezembro, no Pavilhão Panda da COP24 (em Katowice, Polônia), às 10 horas do horário local (7h de Brasília) e terá transmissão pela internet.
O evento, que fecha o último dia da 24ª Conferência de Clima das Nações Unidas, terá a presença do coordenador do programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, e de representantes de diferentes partes do mundo, trazendo exemplos dos desafios e problemas vividos por comunidades que não têm acesso à rede, as chamadas last mile areas.
No Brasil, a maioria das comunidades que não estão ligadas à rede de distribuição está na Amazônia. São milhares de brasileiros, ribeirinhos ou indígenas, que sofrem com problemas econômicos e sociais provocados pela falta de eletricidade. Um exemplo é o acesso e a qualidade da água, buscada de balde em rios ou igarapés por falta de bombeamento. Além do cansaço e do incômodo de beber água em temperatura morna, a coleta sem filtragem provoca diversas doenças, em especial a diarreia, bastante presente na região.
“Quem não tem energia dorme às 6h, 7h da noite, no calor, e dentro do mosquiteiro, para se proteger dos piuns e carapanãs”, comenta Antonia Lopes, de 22 anos, uma das moradoras da Resex do Médio Purus, no sul do estado do Amazonas.Antônia é uma das participantes do vídeo e da plataforma digital sobre o projeto Resex Solar – Reservas Extrativistas Produtoras de Energia Limpa, de autoria do WWF-Brasil e do ICMBio, com o apoio de diversas organizações, cujo lançamento será durante o evento na COP24.
Story Map e vídeo Resex Solar
O Resex Solar é um projeto-piloto que começou em 2016 para levar energia solar para comunidades de reservas extrativistas no sul da Amazônia e capacitar seus moradores em instalação e manutenção de sistemas solares, visando auxiliar a produção local, como uma maneira de melhorar a qualidade de vida da população e combater o desmatamento.
“Se as comunidades têm eletricidade para usar na produção de mandioca, de beneficiamento de polpa de frutas, para refrigeração de pescados e fabricação de gelo, além da iluminação noturna para atividades de artesanato e educação, os moradores permanecerão em suas reservas, terão aumento de renda com a diversificação dos produtos, ganharão em qualidade de vida e saúde. Guardiões que são da floresta, trabalharão ainda mais fortemente para combater o desmatamento ilegal na sua região”, comenta a analista do WWF Alessandra Mathyas, líder do projeto.
Grande parte dos sistemas fotovoltaicos instalados veio por meio de um edital de doação do Ministério de Minas e Energia, de equipamentos solares comprados na década de 1990 e que ainda estavam funcionando apesar de não utilizados. O WWF-Brasil foi uma das organizações a vencer a licitação pública e o lote recebido, com 300 painéis (uma das partes do sistema), além de inversores e controladores, foi integralmente enviado para Lábrea, cidade onde estão as Resex Médio Purus e Ituxi. Até o momento, já foram instalados 20 sistemas em diferentes comunidades, possibilitando, além do bombeamento de água para produção extrativista, o ensino noturno e o monitoramento das tartarugas da Amazônia.
A escolha dos tipos de sistemas elétricos com energia solar fotovoltaica para uso produtivo foi feita pelas próprias associações extrativistas beneficiadas e incluem bombeamento de água para produção de mandioca e proteção com manejo de quelônios (tartarugas, jabutis e afins), iluminação para escolas e centros comunitários e energia para despolpamento de frutas e refrigeração, possibilitando a venda dos produtos extrativistas.
Segundo a coordenadora de Políticas e Comunidades Tradicionais do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Mara Carvalho Nottingham, a energia limpa traz alternativas concretas de diversificação do extrativismo realizado pelos moradores das Resex, sendo fundamental para a redução do desmatamento ilegal, que muitas vezes acontece pela absoluta falta de oportunidades econômicas e de subsistência das populações tradicionais.
Um estudo, realizado em 2015, pelo ICMBio e pela Universidade Federal de Viçosa revelou que a renda média per capita nessas Resex é de R$465 por mês. De acordo com os moradores, o combustível, seja para o gerador, seja para os barcos de locomoção, é o principal gasto das famílias moradoras das Resex.
“O projeto Resex Solar foi inspirado em iniciativas semelhantes de organizações parceiras, presentes na Amazônia, e busca servir de inspiração para subsidiar políticas públicas na área de energia, mostrando que energia solar, além de gerar menos ruído e poluição, possibilita ganhos econômicos e sociais para as famílias que vivem remotas”, diz
Alessandra Mathyas.
O story map e os vídeos do projeto Resex Solar estarão disponíveis, em inglês e português, no link www.wwf.org.br/resexsolar.
Sobre o WWF
O WWF-Brasil é uma organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza, com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. Criado em 1996, o WWF-Brasil desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede mundial independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.