Tudo começou na rua 13 de Maio, em 1995. Lá foi realizado o primeiro Sarau do Zé Geral, na noite de uma quarta-feira. Depois num Casarão, no bairro Amambaí, seguindo por uma casa na Esplanada Ferroviária, AABB e assim foram 15 endereços e mil edições até chegar na rua Pasteur 937, o endereço da cultura. E isso o fez o músico que é referência e ícone no estado e tornou a frase famosa “Saraudo Zé Geral”. Fui apresentado a ele por Zeca do Trombone, meu professor de violão, mas que me viu trocar o dedilhar das cordas por manusear as palavras. José Geraldo Ferreira, “Zé Geral”, prestes a completar mais um aniversário no próximo 14 de julho, é um dos pilares do Morenismo.
O Morenismo surgiu para divulgar e valorizar o que é a Cultura, promovendo ações que contribuíram e ainda o fazem para a autoestima do cidadão da capital sobre a identidade regional que temos. É um movimento de afirmação, e de apreciação da arte sonora que produzimos.
Certamente que para esta nomenclatura não se pensou na criação de modelos e nem linhas, mas sim de afirmar: é de Campo Grande sim. Mesmo que tenha sua origem externa. É como a própria formação da cidade. São pessoas que trouxeram suas contribuições e aqui criaram características próprias e assim aconteceu com o nosso amigo Zé Geral que trouxe a simpaticíssima “Val” de Atibaia para o nosso mundo Neste momento não há como não lembrar e citar o poema do Emmanuel Marinho.
Poesia? Poesia não compra sapato! Mas como andar sem poesia!!! E de poesia e música se instituiu o Morenismo e Zé Geral, é o abraço que permanece no ar e ele abraçou e abarcou toda esta estrutura e tendências, fazendo com que por anos a fio pudesse parecer a única nesga de resistência com fulcro no trabalho deste violonista, compositor e cantor que resiste ao tempo como o cerne de aroeira.
Ele tem estrutura de palco, aparelhagem e pureza de propósitos. Além de uma capacidade intelectual invejável e que pude comprovar quando musicava poemas do livro da escritora Vanda Ferreira. Material literário que foi prefaciado pelo professor de Gramática, Adelino Brandão; residente na época em Paranaíba.
Zé Geral sabe que Mato Grosso do Sul é marcado pela ampla diversidade cultural. E traduz com sua voz a representatividade de sua música e a tradução da soma de povos que fizeram do Centro-Oeste brasileiro um rico encontro de tradições e costumes.
Campo Grande mistura influências de diversas etnias, principalmente dos vizinhos fronteiriços. Desbravada por mineiros, Campo Grande acolheu diversos imigrantes e brasileiros de vários estados e a síntese de todas estas questões e nuances estão marcadas na alegria, na poesia e no tom musical de Zé Geral.
E como diz Elânio Rodrigues: “Nesse dois por dois nós somos um pro outro. No arrastar do chão, poeira e paixão” Assim é Zé Geral: é a sombra da mangueira, é pegadas na grama, são as fotos expostas na parede, é a serenata violão e voz, na porta da amada; é história, música e poesia em fusão e difusão, que mostra a beleza sob todas as formas; e faz parte da nossa própria identidade cultural. Vida longa para Zé Geral.
*Articulista